Unificação: O Blog do Lucas Cardozo e o Críticas do Lucas Cardozo agora são um só. O blog se tornou um espaço pessoal para rascunhos e afins, além de algumas publicações de alguns sites que já fiz parte.

09 janeiro 2019

[GEEKABLE] [CRÍTICA] A Primeira Noite de Crime

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2018]

A Primeira Noite de Crime


Quando o primeiro Uma Noite de Crime foi lançado a meia década atrás, talvez nem era esperado todo o sucesso que fez. Eis que, após uma trilogia divisora de opiniões e sem ter para onde avançar, a franquia chega ao seu quarto longa, contando o começo de tudo.



Enquanto o primeiro longa se focou em ambiente fechado, com a história passando dentro de uma casa, o segundo expandiu os horizontes e colocou novos personagens nas ruas. O terceiro enfim explorou mais o lado político desse universo, desenvolvendo também o lado da rebelião.



O diretor e roteirista da franquia, James DeMonaco, retorna para o quarto filme com sua insana premissa onde o governo dos Estados Unidos permite que, por 12 horas seguidas, o crime seja liberado. É o chamado Expurgo. Entretanto, dessa vez ele é apenas roteirista, deixando o cargo de diretor para Gerard McMurray (Código de Silêncio).



Novos personagens





O astro Frank Grillo não retorna para o novo longa. Ele já havia demonstrado desinteresse e dito que não retornaria. Por se passar no começo de tudo, sua ausência é justificável, já que ele apareceu apenas no segundo e no terceiro filme. E, assim como os filmes anteriores, novos personagens dão as caras.



Na trama, uma pesquisa é posta em prática quando o governo americano passa a ser controlado pelos Novos Pais Fundadores, que prometem uma reforma no país. A cidade de Staten Island é escolhida para o experimento. O local é composto pela da população de baixa renda e possui altos índices de crime. O governo oferece cinco mil dólares para quem permanecer no local e mais recompensas para quem participar do ato.



A Dra. May Updale (Marisa Tomei) é a responsável pelo projeto, financiado pelos Pais Fundadores. Dentre o grande elenco, temos a protagonista Nya (Lex Scott Davis), uma garota que luta contra o Expurgo. Ela possui um passado com Dmitri (Y'lan Noel), traficante poderoso da região. Enquanto ela busca refúgio na igreja, seu irmão Isaiah (Joivan Wade), decide participar do Expurgo buscando vingança contra o assassino Esqueleto (Rotimi Paul).



Apesar do filme não assumir, a trama também pode ser interpretada envolvendo questões raciais, já que o elenco é praticamente composto de atores negros, justamente os moradores de Staten. Os brancos entretanto são mostrados no poder. O tema do filme é provavelmente o mais interessante da franquia. Infelizmente nem tudo são flores.



Problemas





É realmente interessante acompanhar como o povo reage ao fato de poder matar e furtar sem consequências (e ainda ser recompensado caso sobreviva). Entretanto, a experiência, ainda em estágio inicial, não é muito animadora. O filme se utiliza de surpresas bastante anti-clímax, mas ao mesmo tempo totalmente válidas e aceitáveis. Meio controverso, mas é isso mesmo. Demora para o Expurgo ganhar vida e mesmo assim tudo o que não envolve os principais é apresentado de forma rasa até demais.



Querendo ou não, a franquia chama a atenção não apenas por sua premissa, mas por suas cenas de ação. Pessoas fantasiadas saindo por aí matando loucamente. Quando isso não é satisfatório, o longa se torna cansativo. A trama principal carrega uma ótima história, mas sua ação, que chega a ser boa e está presente em determinados pontos, não são o suficiente. E isso pesa num filme do gênero.



Não é querer alimentar um gosto sádico, mas o filme exibe diversas situações do Expurgo como se fossem vagas compilações do que está acontecendo. Vemos o que está ocorrendo ao redor da cidade, mas bem de relance. Não que os anteriores não façam isso, mas aqui deixa a desejar. A sensação é de que poderia ser melhor, até mesmo quando se trata dos momentos dos protagonistas.



O trunfo do longa é justamente a história e seu contexto, trazendo novidades e se destacando assim como cada filme fez. Nunca é mais do mesmo. Cada capítulo explora um tema diferente. O visual, a trilha sonora, tudo está bom, até mesmo o roteiro, mas faltou algo. O clímax por exemplo é incômodo demais para aqueles com sensibilidade a luz.



Embora possa ser o filme mais fraco da franquia, A Primeira Noite de Crime apresenta conteúdos que só acrescentam na mitologia. Ainda há potencial a ser explorado. Inclusive questões ficam em aberto sobre como tudo aquilo evoluirá para o que foi visto no primeiro longa. Óbvio que há suspeitas, mas falta desenvolvimento. Caso a franquia não continue no cinema, alegrem-se os fãs pois uma série de TV está em andamento.




[GEEKABLE] [CRÍTICA] Buscando...

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2018]

Buscando...


Nas últimas décadas, filmes foram feitos mostrando o perigo de conversar com estranhos pela internet. Longas como A Sala Negra e Confiar são exemplos claros de como não conhecemos aqueles que estão por trás da tela. As vezes nem mesmo quando os encontramos pessoalmente. Agora imagine uma premissa nessa pegada, só que toda se passando numa tela de computador. Esse é Buscando...



O estilo do longa não é exclusivo nem original, mas existem tão poucos filmes assim que acabam se destacando. Seja em Megan is Missing, The Den ou Amizade Verdadeira, somos apresentados a situações vistas sob o ângulo de webcams, serviços de stream, gravações de segurança, celulares, etc. A diferença é que tais filmes, apesar do suspense em comum, costumam trazer algo mais voltado para o terror, enquanto esse é mais voltado para o drama.



O primeiro longa do diretor Aneesh Chaganty (também roteirizado pelo mesmo) se destaca por trazer uma experiência realista através de tudo o que uma tela de computador tem a oferecer. O resultado chega a ser mais interessante e de certa forma mais proveitoso que seus semelhantes. Tirando uma ou outra cena, a maior parte se passa no desktop.



A trama acompanha o pai de família David Kim (John Cho) em busca de sua filha desaparecida Margot (Michelle La), de 16 anos. Enquanto a detetive Rosemary Vick (Debra Messing) investiga o caso, Kim decide invadir o notebook da filha em busca de informações, o que o leva a novas descobertas. A cada novidade, uma reviravoltas ocorrem ao longo da trama.



Experiência diferente





O processo de pesquisa do protagonista é mostrado em detalhes. Ele realmente vai fundo na procura por tudo o que a filha publicava online. A história vai sendo contada por conversas por chats e webcam, pesquisas em páginas da internet, sites de vídeos e notícias, redes sociais, arquivos do computador, etc. É como acompanhar uma "gameplay" de um simulador de PC. A comovente abertura deixa claro a proposta do longa.



Todo o modelo de tela, tanto do Windows quanto do Mac, são fielmente reproduzidos no filme, desde o visual, até os ícones, papel de parede, descanso de tela e afins. Inclusive as formas que os programas abrem e como são utilizados. Até quando usam outros meios para contar a história, fazem questão de manter tudo dentro da proposta e da forma mais real possível.



A versão traduzida do filme merece bastante destaque por manter a fidelidade do estilo. Traduziram e adaptaram o máximo possível sem influenciar no conteúdo, o que aumenta ainda mais a experiência. É bacana citar o cuidado que tiveram, aproximando assim o público.



O filme é claramente um alerta aos pais e aos próprios filhos ou usuários de chats diversos na internet. Nunca se sabe quem está por trás do outro perfil. Buscando... talvez seja o longa que melhor conseguiu utilizar o estilo de tela de computador. Sua trama "simples" é enriquecida pela experiência do formato, pelas reviravoltas e por acompanharmos todo o processo de investigação. Uma grande crítica a nossa exposição virtual.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2018]

Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas


Em 2013, o Cartoon Network decidiu trazer de volta o "antigo" desenho de Os Jovens Titãs, da DC, através de uma releitura mais infantil. Surgia assim Os Jovens Titãs em Ação!, dividindo o público e recebendo tanto críticas quanto elogios. Eis que agora, em pleno 2018, a série recebeu seu próprio longa para os cinemas.



Claramente inspirado em sua versão anterior, que por sua vez foi baseado na hq dos anos 60, o desenho é uma grande sátira aos super-heróis, trazendo situações cômicas e por vezes bobas, mas também referências a cultura pop, participações especiais e afins. Com o filme não é diferente.



Podemos considerar o longa de Os Jovens Titãs em Ação! como uma versão infantil do filme de Deadpool. As referências estão lá, assim como a quebra da quarta parede, a metalinguagem e as participações especiais. E haja percepção para notar todos os detalhes.



Na trama, Robin, Ravena, Estelar, Mutano e Ciborgue querem ter o próprio filme, mas logo percebem que são considerados uma piada no mundo dos super-heróis (frase dita inclusive pelo Superman numa de suas participações, que não poupa e ainda diz que eles são bobos demais). Revoltados, eles decidem provar que são merecedores de terem o próprio filme.



A ideia central é a busca por um arqui-inimigo, que, na lógica deles, é o que gera um filme a um herói. No caso, eles escolhem o Slade (confundido com o Deadpool) após um encontro, mas a trama vai muito além disso. Pequenos arcos, cenas variadas, tudo vale na aventura nas telonas, que sequer se leva a sério e isso só melhora o resultado.



Embora seja um filme dos Jovens Titãs, o Robin é o que mais recebe destaque. Isso ironiza a própria trama ao longo do desenvolvimento. Proposital ou apenas a busca por um personagem de destaque? A todo o momento ele quer um filme dele e meio que consegue isso indiretamente.



Como dito anteriormente, as referências estão presentes no longa assim como é no desenho. Por parte dos super-heróis, há nítidas referências a Marvel (incluindo uma surpresa) e a própria DC. Há também menções a histórias em quadrinhos, desenhos animados, séries, filmes, etc, seja pela obra citada diretamente, seja através de algum personagem, seja por paródia. E não se restringem apenas a produções da Warner.



Essa liberdade de referências enriquece também a já citada metalinguagem. É um filme sobre a busca por merecer um filme. Logo na primeira parte do longa já vemos os Jovens Titãs no cinema presenciando trailers numa situação hilária. Tudo na trama ocorre ao redor de filmes. Toda a aventura se dá porque eles querem um filme deles.



O longa carrega o clima do desenho, assim como seus defeitos e qualidades. É como um longo episódio ou uma coletânea linear. Tem seus momentos de ação, de drama, de aventura, mas o foco mesmo é na comédia. Ainda há algumas cenas musicais com canções que ficam na mente durante aquele momento. E repetindo: O resultado ainda é um filme infantil feito para os fãs do desenho infantil. Boa diversão.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Tomb Raider: A Origem

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2018]

Tomb Raider: A Origem

Um bom filme semi-genérico de sobrevivência na selva baseado num aclamado jogo.



Tomb Raider possui seu legado e isso pesa no resultado. Adaptar um jogo baseado em exploração e sobrevivência pode dar muito certo ou muito errado. Deixar uma marca é que é o problema, visto que pode se tornar qualquer coisa.

Tendo estreado em 1996 nos videogames, a exploradora Lara Croft fez enorme sucesso, entrando para o Livro dos Recordes em 2006 como a aventureira heroína mais bem sucedida do mundo dos games.

A que se deve essa fama? Seus ótimos jogos? Também, mas sabemos que não era apenas isso. Uma das características que tornava Lara reconhecida era um aspecto peculiar: seus seios avantajados. Uma grande bobeira para os dias de hoje, os polígonos esticados faziam marmanjos babarem antigamente. Pois é. Ver para crer.

Em meio a essa leva de jogos, a franquia recebeu duas adaptações duvidosas com a bela Angelina Jolie, uma em 2001 e outra em 2003. A primeira chegou a se tornar na época a adaptação de jogo mais lucrativa do cinema.

Como novos tempos requerem novas medidas, em 2013, em seu décimo jogo, a franquia sofreu um reboot que mudaria tudo. Eis que Tomb Raider se tornou um jogo de sobrevivência, trazendo uma Lara remodelada, mais jovem, humana, realista, natural.  Foi sucesso de crítica e público e não demorou para receber continuação. Agora, em 2018, foi lançada a adaptação.

Não cheguei a jogar o jogo, porém, de acordo com os gamers que tive contato, o filme ficou fiel ao jogo (salvo momentos), o que acabou por dividir opiniões, como aqueles que disseram preferir "jogar novamente" em vez de "ver um resumo" (o que chega a ser irônico, visto que o público gamer é impossível de se agradar no cinema, reclamando quando um filme não é fiel ao jogo, mas também quando um filme é fiel). Prosseguimos.

A nova Lara Croft
A trama inicia com Lara Croft (Alicia Vikander) em Londres, dividindo seu tempo entre trabalho de entregadora e treinos de boxe. Seu pai, Richard Croft (Dominic West), está desaparecido faz sete anos e ela recusa a assumir seu lugar em sua empresa. Ao descobrir seus segredos, ela parte em busca da ilha que foi seu último ponto de partida. Para ir até lá, ela recebe a ajuda de Lu Ren (Daniel Wu), filho do cargueiro que levou o pai de Lara para o local.

Todo o primeiro momento do longa se diferencia do demais, possuindo um clima urbano e mais aberto a desenvolver o perfil de Lara, embora não tenha muito o que mostrar. Não que sejam os minutos mais fracos do longa, mas são os trechos menos empolgantes. Apenas quando Lara embarca é que o gancho para a aventura começa.

É na ilha que conhecemos o vilão da trama, Mathias Vogel (Walton Goggins), um homem misterioso que já havia trabalhado com Dominic no passado. Ele logo aprisiona Lara e é aqui que o foco do filme se inicia. A partir desse momento, o longa se torna parte sobrevivência e parte exploração. Há espaço na trama para os dois lados da personagem.

A linha narrativa prossegue como um filme de diversos acontecimentos onde uma coisa vai levando a outra. Afim de evitar spoilers, não entrarei em detalhes. É uma trama simples e objetiva de fácil agrado.

Alicia Vikander está perfeita na personagem. Bons momentos para perceber isso são nas poucas, porém marcantes, cenas em que ela está sozinha na selva. A empolgante cena do avião e a cena noturna de tirar o fôlego deixam isso claro.

Como o subtítulo sugere, aqui vemos a origem da personagem. Antes de começar a usar suas pistolas e afins, antes de ter recursos para armamentos e tecnologias, temos uma guerreira com arco e flecha no mais puro instinto de sobrevivência e nada mais. Fantástico.

Tempo
Infelizmente o filme sofre com tempo. Como disse lá na parte sobre a opinião dos gamers sobre "jogar novamente" em vez de "ver um resumo", o filme realmente parece um resumo. Como também deixei levemente a entender na parte das "poucas, porém marcantes" cenas de Lara sozinha na selva, tudo parece muito curto.

De certa forma, o filme é realmente um resumo do jogo, mas não deram tempo suficiente para explorar esse universo. Claro que isso se deve ao fato dos limites de duração de um longa. Fica a sensação de que estão indo rápido demais com os acontecimentos. Por um lado isso é bom, evitando o longa de cair na enrolação, mas por outro impede o longa de aproveitar seu material como deveria.

Senti falta de mais cenas de sobrevivência e de exploração de Lara, mais cenas dela vagando pela floresta e por cavernas, mais cenas dela resolvendo puzzles, etc. Na verdade tudo isso é tão reduzido no filme que colocam uma ou duas cenas de algo só para dizer que tem. Mas novamente repito: Isso é mais culpa do formato do que do roteiro.

Tomb Raider funcionaria melhor como uma série do que no cinema, dando mais tempo para desenvolver o universo apresentado. E para os gamers que reclamassem que desse jeito seria literalmente melhor jogar o jogo novamente, digo que muitos veem gameplays, então seria meio que ver uma gameplay, só que regravada como série.

Genérico
Algumas reviravoltas previsíveis ocorrem na trama. Aliás, soube que para quem jogou o jogo pode ser surpresa por mudarem alguns acontecimentos, o que ao meu ver não deu certo, deixando algo totalmente genérico. Não que isso negative a trama. O fato de algo ser genérico não necessariamente torna esse algo ruim, apenas deixa de torna-lo marcante.

O filme é o que é (óbvio). Como dito anteriormente, adaptar um jogo de sobrevivência é complicado e pode se tornar vago. Tomb Raider mostra uma mulher em meio a uma selva lutando para sobreviver. O que a torna especial? É como adaptar um jogo de guerra ou um jogo de corrida. É necessário que a essência do jogo, que o que torna o jogo único e diferente dos demais, esteja ali no filme. Tomb Raider... provavelmente consegue.

Vamos ao ponto: A história é sobre uma mulher que está tentando sobreviver em meio aos perigos da selva enquanto é perseguida por um grupo armado que está atrás de algo que seu pai procurava. O fato de ser uma mulher já é um enorme diferencial, ainda mais em meio a tantos filmes de sobrevivência com homens. O fato dela não ser um sexy symbol assim como sua antiga versão também é um diferencial. No mais, Tomb Raider é o que é (obviedade novamente). Uma boa história e respeito ao público é tudo o que importa. Aceite e seja feliz.

Futuro
Em tempos de politicamente correto e também de busca pela representação feminina como deveria, a franquia consegue agradar boa parte dos públicos, o que deve ser levado em conta. Entre erros e acertos, a adaptação pode até deixar a desejar em alguns quesitos, mas seu saldo final ainda é positivo.

Apesar de estar dividindo opiniões com seu filme, assim como aconteceu com sua antiga versão, resta esperar para saber se a franquia ainda conseguirá ser um sucesso no cinema assim como é nos videogames. Espero muito que façam um segundo filme. Ou quem sabe uma série de TV...

[GEEKABLE] [CRÍTICA] O Motorista de Táxi

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

O Motorista de Táxi

Subtítulo: Jornalista e taxista se unem contra os militares em filme baseado numa história real.

Nota: 4,5 estrelas

Resumo: Baseado em fatos, o filme transmite o impacto da descoberta de uma ditadura através dos olhos de um taxista e um repórter. Com ótimo desenvolvimento e personagens altamente envolventes, a abordagem sobre o ser humano emociona.



Imagine que você é um taxista e um jornalista revela que algo estranho está acontecendo num local do país que você mora. Você não acredita, mas o leva até lá e então o choque de realidade atravessa seus pensamentos. É isso que acontece em A Taxi Driver, inspirado/baseado em fatos.

O filme se passa nos anos 80 e conta o que ocorreu no fatídico Massacre de Gwangju, na Coreia do Sul, quando militares cercaram todo o território e agrediram seus moradores. Uma pequena ditadura ocorrendo sem ninguém de fora saber.

O personagem que dá título ao filme é Kim (Kang-ho Soon), um taxista que vive sua vida normalmente tentando ganhar dinheiro. Endividado e com uma filha para cuidar, ele ouve sobre uma proposta de um jornalista com um pagamento que quitaria suas dívidas e malandramente vai até o local, pegando para si o cliente de outro taxista. O jornalista é Peter (Thomas Kretschmann), um repórter alemão que estava no Japão e decidiu ir para a Coreia do Sul após rumores sobre o ocorrido em Gwangju. Juntos, eles vão até o local.

Inicialmente, o longa possui um clima parcialmente tranquilo. Temos música tocando no rádio, cenas de estrada, humor e algumas intervenções militares ocorrendo nas ruas devido a protestos. Para Kim, mais um dia qualquer.

Quando os personagens chegam em Gwangju é que as coisas começam a ficar mais sérias. Bloqueado pelo exército, eles buscam meios de entrar no local e acabam conseguindo. Lá, se deparam com ruas desertas, destruição, feridos e protestantes (no sentido de pessoas que protestam, não religião).

O objetivo do repórter é gravar o que está acontecendo, afinal, o jornalista deve informar o ocorrido sem influenciar no cenário, passando apenas os fatos. Mas o que era apenas para ser registrado em troco de dinheiro, acaba se tornando uma luta pela vida e a formação de amizades inesperadas, tornando-o parte da história.

É notável a construção da relação entre os personagens. Começando como dois estranhos e continuando assim por um bom tempo, as situações o forçam a tornar-se mais interligados. Enquanto esse desenvolvimento ocorre, outros personagens começam a aparecer. Cada um é diferente do outro e todos criam um vínculo com os dois principais. Mesmo quando nomes não são identificados, o filme faz questão de nos apegarmos a eles.

É notável também o amadurecimento dos personagens. Kim, sempre com auto-estima mesmo nos momentos difíceis, percebe que seu povo necessita de ajuda e que sua vida, apesar de soar sempre mais do mesmo, é melhor do que daquelas pessoas que estão em guerra. Peter, por sua vez, se envolve numa nova cultura e num acontecimento que o torna mais humano. Seu jeito sempre sério e o fato de ser de nacionalidade diferente o destaca em meio a multidão. Ambos percebem que, mesmo em meio ao caos, as pessoas tentavam ser felizes.

A questão jornalística é retratada no longa. A ditadura local censura os jornais e não deixa que nada saia de lá. País afora, ou nada aconteceu ou foram os protestantes que atacaram e mataram soldados. Peter, tendo apenas sua câmera, registra o que a mídia não mostra, tornando um símbolo de esperança para aquele povo e uma ameaça para o exército.

Aproveitando o gancho, é muito bom ver um filme onde o jornalista não é mostrado como o todo-poderoso. Ele é visto como herói pelo povo devido ao seu objetivo, mas o filme faz questão de mostrar que ele é apenas mais um humano em meio aos demais, vivenciando tudo que os outros vivenciam.

É possível sentir uma variação de gêneros entre o humor, o drama e a "ação". Normal dos filmes sul-coreanos. Entretanto, nesse caso, é como se cada ato acrescentasse um gênero a mais. O resultado é interessante.

Apesar de ser uma história real, o filme usou como base os relatos do jornalista. Não tira mérito algum, claro. A verdade está lá e o fato da produção ser sul-coreana ajuda a tornar mais natural o lado dos sul-coreanos.

O interessante é que, com o lançamento do filme e após supostas dúvidas sobre a veracidade de alguns elementos, respostas vieram a público. Embora seja um caso real, prefiro não dar spoilers, apenas dizer que o longa ajudou a entender melhor a amizade entre os dois e o que aconteceu naquele local e naquela época. Para os curiosos, pesquisem sobre eles.

O Motorista de Táxi, que agora concorre a uma vaga no Oscar, é um belo conto sobre humanidade. Fruto de um caso real, ele retrata um momento marcante da história do país asiático através dos olhos de um simples taxista e de um repórter em busca de notícia. A forma que o longa aborda e desenvolve os personagens e o impacto dos acontecimentos é espetacular.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Tempestade: Planeta em Fúria

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Tempestade: Planeta em Fúria

Subtítulo: Destruição mundial ao ritmo de ação e comédia.

Nota: 3,5 estrelas

Resumo: Com variados fenômenos da natureza, trama entrega diferentes gêneros num filme clichê que se sobressai mais pela qualidade que pela diferença com os demais. Ao fim é um bom filme-pipoca.



Nos últimos anos fomos devastados por filmes-catástrofe que investiram mais em efeitos do que roteiro (parece a situação do cinema em geral). Felizmente Tempestade: Planeta em Fúria não é um novo 2012 ou Terremoto, embora fosse melhor ter sido em alguns momentos. Também não é inovador, mas podemos relevar.

Filmes-catástrofe sempre dividiram crítica e público. Há quem goste, há quem não goste. Em suma, deve-se ter em mente que filmes do tipo costumam ser feitos para divertir, com cenas exageradas e grandiosas.

Com direção e roteiro de Dean Devlin (Indepencende Day, Godzilla), Geostorm, embora mantenha o modelo de família problemática de fundo típico do gênero, felizmente vai além. Dessa vez temos uma história envolvendo questões políticas e ambientais.

Dentro do universo do longa, o planeta Terra chegou a um ponto tão problemático em 2019 que o clima mudou, tornando fenômenos da natureza frequentes. O engenheiro Jake Lawson (Gerard Butler) então constrói o Dutch Boy (Menino Holandês), um satélite universal capaz de controlar o clima e impedir que as mudanças climáticas destruam tudo.

Devido a problemas políticos, Jake é afastado de seu cargo. Seu irmão, Max (Jim Sturgess), assume o cargo. Cumprindo os prazos, a posse do satélite está para ser transferida para a ONU quando falhas técnicas começam a ocorrer, resultando em mortes ao redor do mundo. Jake é chamado para resolver o caso.

O filme então se divide basicamente em duas linhas: Uma com Jake no satélite e outra com Max na Terra. Há também uma pequena parte para Hannah (Talitha Bateman), filha de Jake, que inclusive inicia a narração do longa, embora não tenha papel maior na trama.

Jake se envolve com a equipe do satélite, buscando resolver o problema, mas acaba por descobrir uma conspiração que envolve até mesmo o presidente dos Estados Unidos Andrew Palma (Andy Garcia). Max por sua vez possui uma relação secreta com a agente Sarah Wilson (Abbie Cornish), presente em toda a trama. Outros personagens acabam aparecendo conforme o longa avança, ficaria extenso citar todos.

O longa varia entre seus gêneros, buscando um equilíbrio entre o drama, o romance, a comédia e a ação. Buscando ser grandioso, o filme acaba falhando em alguns momentos, forçando acontecimentos para se manter dentro do nível aceitável para o público geral, principalmente no terceiro ato. Apesar, seu saldo final é positivo.

As cenas de destruição são boas, porém sente-se que algumas poderiam ser melhor. Em compensação, percebe-se que o foco foi mostrar uma diversidade de eventos. Temos congelamento no deserto, derretimento na cidade, tsunami (salve Rio de Janeiro), tornados, raios, etc. Existe uma variedade de catástrofes para cada lugar do planeta.

O cgi do filme varia bastante. Enquanto em alguns momentos soa realista, com cenas bem trabalhadas e mescladas ao ambiente real, em outros soa falsa, sendo facilmente visível a animação destacada sobre a filmagem. Um problema tanto quanto comum, na verdade. Filmes de franquias grandes como X-Men: Apocalipse também sofrem disso. Nesse quesito, poderiam seguir o modelo do controverso 2012, com suas cenas surreais de brilhar os olhos e causar impacto. Aqui soa superficial, mesmo agradando no momento.

Em resumo, o filme cumpre seu papel de entreter. Ele desenvolve seus personagens, mescla gêneros, apresenta cenas empolgantes. Recomendo não assistir ao trailer nem procurar muitas sinopses, já que muito da trama está sendo divulgada abertamente, visto que o longa não tem pressa para seu desenvolvimento e possui um conjunto de tramas para ser contado.

Não estou dizendo que o longa seja algo inovador, pois não é. Nem também que ele se destaca por ser melhor que muitos do gênero, embora seja verdade. Acontece que Planeta em Fúria busca trazer um diferencial ao mesmo tempo que é mais do mesmo. Em vez de apenas um drama familiar com pessoas tentando sobreviver ao "fim do mundo", temos uma história de ação com conspiração governamental. Considero válido.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] A Morte te dá Parabéns

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

A Morte te dá Parabéns

Subtítulo: Um ano a mais de vida, um ano a menos de vida. Feliz aniversário.

Nota: 8

Resumo: Considerado uma mistura de Pânico com Feitiço do Tempo, longa é um dos mais divertidos do ano. Mesmo com um padrão pré-estabelecido, ele consegue inovar a cada retorno, trazendo mudanças que repercutem posteriormente.



Adolescente em crise sendo perseguida por assassino com máscara de bebê enquanto o dia se repete num loop infinito. Essa premissa resume A Morte te dá Parabéns, considerado uma mistura de Pânico com Feitiço do tempo.

Na trama, Tree (Jessica Rothe) é uma estudante daquelas do tipo patricinha, que maltrata todos e se acha superior. O dia de seu aniversário parece normal até o dia escurecer, quando uma festa ocorre e ela acaba sendo assassinada. Ela então acorda e o dia se repete. Novamente, no fim do dia, ela é morta e acorda como se nada tivesse acontecido, percebendo assim estar presa num ciclo sem fim.

Por ser a protagonista e a única que recebe um cuidado maior, Tree evolui com o tempo. Inicialmente ela é tão irritante que dá vontade de mandar o assassino matá-la logo, mas depois começa a ficar mais aceitável.

Dentre os "variados" personagens da história, temos Carter (Israel Broussard), outro estudante que tenta ser simpático com Tree e posteriormente ajudá-la com seu problema. Há também o professor que Tree tem um caso, o pai de Tree, as garotas do Kappa, entre outros, como o misterioso assassino com máscara de bebê.

Ao tratar dos personagens secundários, não há um grande aprofundamento. Eles são o que são, cumprindo seus papéis específicos na trama. Alguns estão lá apenas para uma cena, outros para cenas específicas. E não há mal nisso, afinal, conseguimos entender o que cada um faz ali.

Aos moldes de um típico terror adolescente, o longa consegue unir suspense e comédia de forma eficiente, mesmo em meio aos clichês e estereótipos do gênero. É como uma repaginada no modelo que conhecemos.

Apesar de seguir sempre o mesmo padrão (Tree acorda, tudo se repete e no final é morta de alguma forma diferente), o filme consegue se inovar. Todas as mudanças que Tree faz após cada retorno levam a uma situação diferente. É como um efeito borboleta, onde uma consequência repercute ao longo do seu dia. Sabendo que tudo irá se repetir, a protagonista aproveita para criar novos acontecimentos. Isso é bastante positivo, sem deixar o longa cair na mesmice e sempre restaurando a atenção e o interesse do público.

Dirigido por Christopher Landon, roteirista da franquia Atividade Paranormal, o longa cumpre o que promete. Por ser bem específico quanto ao conteúdo, o trailer acaba por resumir parte dele, mas não estraga as surpresas. Embora a revelação do assassino seja óbvia, conseguem entregar algo dinâmico e gostoso de assistir, provando assim que filmes do tipo podem sim entreter de forma inteligente sem precisar ser o "diferentão" do catálogo.

Com um título brasileiro facilmente lido como A Morte tá de Parabéns, o que chega a ser cômico, Happy Death Day (trocadilho com Happy Birthday*) surpreende ao trazer um longa sem medo de ser como é: Excêntrico. Cenas humoradas e assustadoras se mesclam num dos filmes mais divertidos do ano.

*Para os não manjadores de inglês, Happy Birthday equivale ao nosso Parabéns ou Feliz Aniversário. Só que birth significa nascimento, ou seja, birthday seria algo como dia do nascimento. Já death é morte, logo death day seria dia da morte. O título original é ótimo, mas o título brasileiro também traz um bom clima.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] K-POP: Manual de Sobrevivência

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

K-POP: Manual de Sobrevivência

Subtítulo: Livro brasileiro relata a cultura pop sul-coreana com competência

Nota: 4,5/5 - Brasileiras reúnem suas pesquisas e experiências em livro sobre o k-pop e a Coreia do Sul. Apesar de alguns erros de digitação e com uma grande quantidade de gírias que os mais velhos talvez não entendam, o conteúdo se sobressai positivamente e o resultado agrada.

X

Desde meados dos anos 2000, com a chegada da internet, o k-pop (pop coreano) começou a se popularizar lentamente mundo afora, através de fóruns, redes sociais e sites específicos sobre o tema.

A segunda geração de artistas surgia enquanto a tecnologia começava a avançar. Mas foi apenas na década atual, mais precisamente em 2012, que ocorreu seu maior estouro, com o hit Gangnam Style batendo recordes e chegando ao topo das paradas mundiais. Desde então o gênero vem conquistando cada vez mais pessoas.

Como era de se esperar, não demorou para que obras diversas explorassem esse universo. Além de programas de entretenimento, reality shows e afins que as empresas criam para promover seus artistas, o gênero musical chegou a ganhar documentários e até livros sobre o assunto.

Não sei o quanto os livros lançados são populares lá fora, mas nenhum deles chegou no Brasil. Mas esperem. Com cada vez mais o k-pop se popularizando, o Brasil começou a chamar a atenção, visto os diversos shows que o país recebe atualmente, apesar da crise e da falta de estrutura para eventos de grande porte.

Assim como obras saíam lá fora, nós também fomos responsáveis por algumas. Esse ano, dois livros sobre o assunto foram lançados, sendo um deles o "K-POP: Manual de Sobrevivência", que vos trago para analisar.

K-POP: MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA



Buscando se adequar a leitura atual e ao público juvenil, o livro é "escrito de maneira simples e divertida", como diz a própria sinopse, que complementa dizendo que o manual leva o leitor "a passear pela história, cultura, indústria de entretenimento, música e paixão da Coreia do Sul".

De fato, a linguagem utilizada pelo manual é semelhante a de internet, sendo leve, informal, atrativa. Através de diversos capítulos, é explorado esse universo sul-coreano, indo muito além do k-pop.

AS ESCRITORAS


Da esquerda para a direita: Natália Pak, Érica Imenes e Babi Dewet.
Crédito: SarangInGayo
O livro foi escrito por três pessoas conhecidas pelos kpoppers brasileiros antenados. Seguindo a ordem no livro, a primeira é Babi Dewet, apresentadora, youtuber e escritora, responsável pela trilogia Sábado à Noite e a nova Cidade da Música, além de contos para os livros da Turma da Mônica Jovem (sim, existem). Ela também apresenta o programa Ponto K-Pop na PlayTV.

A segunda é Érica Imenes, apresentadora, produtora, youtuber e editora do portal SarangInGayo, o maior e mais antigo portal de cultura coreana do Brasil. Ela é responsável pela realização de alguns dos shows de k-pop que ocorrem no Brasil.

E a terceira é Natália Pak, criadora do SarangInGayo. Filha de imigrantes, seu site chegou a ser reconhecido pelo governo sul-coreano, ganhando diversos prêmios e títulos, chegando até mesmo a ser intitulada representante da Coreia do Sul. Ela também faz parte da diretoria da Geração de Jovens Coreanos no Brasil.

Alguns podem duvidar da qualidade, visto que todas nasceram no Brasil, mas, como podem reparar, todas estão envolvidas na área de entretenimento e cultura sul-coreana. Além, a Babi é escritora, a Érica tem formação em jornalismo e a Natália é descendente e teve contato direto com a cultura de lá desde sempre.

Foram meses de pesquisa para que tudo estivesse pronto. Lembro que acompanhava as novidades do livro e sempre diziam que lançariam em breve, até que finalmente lançou (aliás, foi na Bienal do Livro). Então valeu a pena esperar? Sim, valeu.

CONTEÚDO



Como dito anteriormente, o livro vai muito além do k-pop.

Em relação ao país em si, há a história da Coreia; as guerras; como funciona o país; a divisão; etc. Por parte do mercado, há a visão geral, além do aprofundamento nos mercados de k-pop e de doramas (novelas/séries).

Já por parte do k-pop, temos a história do k-pop; o processo de transformação do artista em k-idol (ídolo); relatos e crônicas das experiências nos bastidores de shows ocorridos no Brasil; entrevista com artista; recomendações de grupos; os grupos que passaram no Brasil; os maiores grupos do gênero; etc.

Existe ainda um dicionário com os termos mais usados pelos kpoppers (não necessariamente apenas no meio k-pop, mas sim no país). Há até receita culinária.

A divisão dos temas é variada. Depois de falar sobre o país, começa a se dividir entre o k-pop e afins. Embora lendo assim pareça desorganizado, não é. O resultado é agradável, variando os temas sem tornar cansativo e interligando uns aos outros.

Minha intenção aqui não é detalhar tudo o que está no livro, afinal, o bom mesmo é ler e ir descobrindo, independente de conhecer ou não sobre o assunto. Acredite: Dá para se surpreender. Eu, mesmo nesses anos todos me aventurando pela onda Hallyu (termo dado a expansão da cultura sul-coreana), descobri coisas que não sabia.

PRODUTO FINAL

Salvo alguns poucos erros de digitação, o livro é bem acabado, com uma formatação dinâmica, possuindo observações e diversas imagens para ilustrar o que está sendo escrito. As imagens ocupam tamanhos variados e atraem o leitor para o conteúdo.

A quantidade de gírias utilizadas pode incomodar o público mais velho e desligado dos termos usados pelos jovens. Por ser um livro de fácil entendimento, não chega a ser algo que realmente atrapalhe a leitura, embora possa cansar.

Também há uma ótima bagagem de conteúdo apresentado ao longo das páginas, servindo como um resumo da grandiosidade que a cultura sul-coreana possui e como uma introdução para os leitores procurarem mais.

Com muitos acertos e poucos erros, K-POP: Manual de Sobrevivência é uma fonte de pesquisa válida e que introduz a esse universo que é o k-pop. E é muito bom ver o Brasil participando disso.


Crédito: Babi Dewet (Instagram)
Leia mais: Um breve resumo sobre k-pop para geeks (ou não).

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Esta é a Sua Morte - O Show

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Esta é a Sua Morte - O Show

E se você pudesse se matar ao vivo durante o programa em troca de dinheiro para sua família enquanto diversas pessoas o assistem? Aceitaria? Pois essa é a premissa do longa Esta é a Sua Morte - O Show.

Repleto de altos e baixos, o filme dirigido, produzido e atuado por Giancarlo Esposito pode causar certa polêmica ao romantizar um tema pesado como o suicídio enquanto tenta inserir alguma indagação em meio ao espetáculo visual sangrento. O resultado é intrigante, fruto de uma premissa interessante, apesar dos pesares.

A trama se apega a ideia das pessoas gostarem de tragédia e dos publicitários transformarem isso em entretenimento, tornando um mercado lucrativo. Nesse contexto, somos apresentados a Adam Rogers (Josh Duhamel), apresentador de um programa de casamento. No episódio em questão, as coisas saem do controle quando a participante rejeitada pega uma arma, mata o noivo e depois se suicida. Perturbado, o apresentador começa a refletir sobre o que está fazendo.

Como sabemos, a mídia não para, e por isso a apresentadora da emissora, Ilana Katz (Famke Janssen), entra em contato com o advogado e acaba por criar um programa onde as pessoas se suicidam. Adam é contra, assim como a produtora Sylvia (Caitlin Fitzgerald), contratada para produzir o novo reality show. Depois de recusarem, os dois acabam cedendo, mas Adam quer fazer do seu jeito, criando assim um espaço onde as pessoas possam se matar em troca de dinheiro para suas famílias, doado pelos participantes do auditório. Começa então a polêmica.

Rapidamente o programa vira alvo de críticas, e é aqui que temos duas tramas adicionais que percorrem o longa. Uma delas é da Karina (Sarah Wayne Callies), irmã de Adam, que trabalha num hospital e vê sua reputação cair devido a imagem de seu irmão. Outra trama é de Mason Washington (Giancarlo Esposito), que passa por dificuldades para manter sua família, buscando mais empregos para pagar as contas.

Embora tenha um início convincente, logo o desenvolvimento começa a variar, sendo resgatado pelas reviravoltas que a trama constrói. O foco se volta para as consequências causadas pelo programa, enquanto dentro do programa continuamos presenciando um festival de mortes. Adam quer crescer, mas isso começa a trazer consequências. Quanto ao arco de Mason, prossegue interligado em detalhes, o que dá possíveis indícios de seu destino na trama.

O clima mórbido e a espetacularização do suicídio a princípio deveria gerar um debate sobre tal tema, mas não é o que ocorre. A crítica social presente no filme se refere a ganância que algumas pessoas possuem, crescendo e lucrando através de terceiros, buscando sempre mais. É um reflexo dos programas sensacionalistas e do público sedento por carnificina, formando assim o mercado consumista.

As mortes acabam sendo o fio condutor da história. A ideia de um programa de suicídio é defendida de forma realista através de leis, mas não convence. Mero detalhe, afinal, "é apenas um filme". Obviamente tudo leva a uma lição, não é tão gratuito. Existe um sentido por trás da história, mesmo com suas falhas.

A sensação, porém, é de que poderiam ir além, explorar mais esse universo, tratar mais a fundo a questão do suicídio, vista apenas de forma emocional e superficial. O produto final está longe de ser ruim, consegue agradar, mas deixa um vazio do potencial desperdiçado. Por tratar de um tema forte e ter reviravoltas marcantes, o longa consegue se reerguer sempre que necessário, o que influencia muito na qualidade e não o deixa cair no desinteresse.

Talvez o filme não gere debates na vida real, ou não tanto quanto poderia, mas no fim consegue passar sua mensagem. Se matar para supostamente "salvar" a família gera consequências. Quem seria você no meio disso? Um participante? Um apoiador? Um repudiador? Se inscreveria para morrer? Iria assistir junto com a plateia? Faria protestos para acabar com aquilo? Esse é o caminho ou é apenas uma utopia comprada por pessoas manipuladas buscando a satisfação de seus instintos ocultos? Até onde podemos se aproveitar das mortes para nós mesmos? Se é que se aproveitar de algo do tipo seja correto.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] It - A Coisa

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

It - A Coisa

Já dizia Billy, de As Terríveis Aventuras de Billy & Mandy: "Palhaços são encarnações do mal supremo. Eles querem ser a espécie dominante no planeta e vão nos destruir quando conseguirem isso. Destruir legal!". Coulrofobia, ou medo de palhaço, é real. Existem estudos sobre o caso, buscando entender o motivo dessa aflição que algumas pessoas possuem. Como o entretenimento não perde a oportunidade, filmes com palhaços malignos ou referências dos mesmos em variadas obras costumam ser lançados.

Quem sofre desse mal, até mesmo filmes como o clássico trash Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, de 1988, pode se tornar assustador. Nesse caso nem o Bozo ajuda. Una a ficção com casos reais e pronto, o medo aumenta. E o cinema sabe muito bem como usar as situações ao seu favor. Seriam os casos do ano passado crimes reais, brincadeiras de mal gosto ou todas as opções? Talvez nunca saberemos, mas pegadinhas e ataques reais não faltam. E que tantas matérias do G1 tem a ver com a crítica? Tudo.

"It"

Dentre as diversas obras responsáveis pelo medo de palhaços, temos o livro It, do mestre do terror Stephen King. Lançado em 1986, a obra, com suas mais de mil páginas, logo fez sucesso. Em 1990, sua adaptação já surgia: "It - Uma obra prima do terror".

Na trama do livro e do filme, um dos personagens decide reunir todos os seus amigos do passado para retornar a sua antiga cidade. O motivo? A "coisa" estava de volta e eles precisavam enfrentá-la. Essa "coisa" tomava a forma de um palhaço e foi responsável por diversas tragédias. A história então intercalava entre o período adulto e infantil. A minissérie, que posteriormente foi unida como um filme de três horas, teve sua fama na época, mas hoje perdeu força e ficou ultrapassada, embora tenha seu valor.

Desde 2009 uma nova adaptação estava sendo planejada, mas nunca saía do papel. O diretor Guilhermo Del Toro chegou a demonstrar interesse, mas nada aconteceu. Ao longo dos anos o projeto foi avançando lentamente, como a ideia de dividir a obra em dois filmes com a primeira parte se focando nas crianças e a segunda nos adultos, mas só em 2016 as gravações começaram. Logo o filme ganhou a direção de Andrés Muschietti (Mama).

Apenas a primeira parte

Dito e feito, o Capítulo 1 de It se passa nos anos 80 (data adaptada para a nova versão), onde acompanhamos os personagens ainda crianças. Ignorados pelos adultos e tendo apenas uns aos outros, eles formam o Clube dos Perdedores (ou Clube dos Otários, como a dublagem ama lembrar [pelo menos não soou tão tosco como em Glee - O Filme]).

Definir cada membro do clube é impossível, mas vamos lá: O clube é formado por Bill (Jaeden Lieberher), o líder do grupo, que é gago e também irmão de George, primeira vítima do palhaço no filme; Richie (Finn Wolfhard), o boca suja que sempre faz piada de pinto; Eddie (Jack Dylan Grazer), o protegido pela mãe e que usa bombinha; Stan (Wyatt Oleff), o certinho e medroso; Ben (Jeremy Ray Taylor), o gordinho mais carismático de todos; Bev (Sophia Lillis), a única garota do grupo, que sofre nas mãos das colegas e do pai abusivo; e Mike (Chosen Jacobs), o único negro do grupo, que quer seguir seu rumo na vida mas é vítima de racismo.

São diversos personagens para um só filme, mas existe competência ao trabalhar com tantos. E nem citei todos. Temos as famílias das crianças, os moradores da cidade, etc. Todas as crianças do grupo sofrem nas mãos da gangue de Henry Bowers (Nicholas Hamilton). E não é coisa leve. Logo num dos primeiros ataques, Ben chega a ser cortado com uma faca. A cena é curiosa: Um carro passa pelo local, mas não liga e continua dirigindo. Um balão aparece. É o indício do sobrenatural na cidade de Derry.

O lado digno de um pesadelo que se tornou realidade vem do palhaço Pennywise (Bill Skarsgård). Depois de algumas vítimas, ele passa a assombrar as crianças, materializando seus maiores medos em sua frente. Suas cenas são carregadas de tensão e adrenalina, misturando o clichê do terror, com o não-clichê. As crianças fazem burrice igual o pessoal dos filmes de terror, mas aprendem com os erros e vão se preparando. Tem cenas que levam ao susto, mas também tem cenas que vão muito além disso, mostrando os personagens enfrentando seus medos.

O curioso é que o palhaço não sai por aí apenas matando, o que me leva a crer que ele também se alimenta do medo das crianças. Vale citar que apenas as crianças o veem. Prova disso é a sangrenta e exagerada cena a la O Iluminado da Bev no banheiro, onde seu pai não enxerga nada enquanto ela grita desesperada.

Superar o medo é a resposta

Ou seja: As crianças tem que suportar suas famílias problemáticas, o bullying fora de casa e ainda um palhaço assombrando elas. E mesmo assim estão lá, tentando viver suas vidas, se divertir e aproveitar as férias de verão que está apenas começando. É problemático pensar em It como uma obra de terror e unicamente disso.

Diferente do que muitos possam imaginar graças ao trailer, a história mistura elementos de drama e comédia também. Quando quer assustar, consegue criar um clima macabro. E não é só com o palhaço. Quando quer fazer rir, insere a malícia infantil da juventude perdida, mas não esquece da inocência. Quando quer dramatizar, mostra a perda dessa inocência e os traumas reais. Quando quer misturar, inserindo humor na tensão, por exemplo, conseguem de forma como se fosse a Marvel que deu certo. [nota: é apenas zoeira, gosto da Marvel]

É notável um cuidado ao tratar dos assuntos, mas nem por isso pegam leve apenas por serem crianças. Tentando fugir dos problemas, as cenas em que o clube está reunido é nostálgico e diverte. São crianças sendo o que são, sem medo de ser feliz. Quando estão sozinhas e com problemas, porém, o clima muda, vemos o drama em seus olhos, e essa alternância funciona bem graças ao roteiro e a ótima atuação dos atores. Cada um tem seu jeito de ser e o roteiro sabe trabalhar com eles tanto separadamente quanto em conjunto. Um exemplo é a Bev, que, quando está com os amigos, sorri e se sente feliz, mas em casa vive assustada e recuando para que seu pai não a agrida.

Existem vários paralelos com as situações, sobre o medo, sobre vencer o medo, do que realmente devemos ter medo. Isso é bem bacana. Pennywise representa o imaginário infantil, os pesadelos. O jeito das crianças serem reflete suas vivências em casa. A luta por respeito e a fuga dos problemas fortalecem os personagens. Passar por tanta coisa igual muita gente passa na vida real e ainda ter que aturar algo que desafia os limites da lógica? Algo que sequer sabem se é real ou não? Realmente interessante o resultado. Inclusive tem uma cena que o palhaço chega a perguntar "Eu não sou real o suficiente?", e faz ações com consequências reais que interferem no rumo das coisas.

Polêmica desnecessária

Uma das polêmicas do livro, que os haters e alguns sites de entretenimento estão amando relembrar sempre por trazer público, tem a ver com uma orgia infantil. Afim de unir o grupo perdido nos esgotos da cidade, Bev decide se relacionar com todos os garotos, um de cada vez.

A cena na época deveria ser uma demonstração de amadurecimento, da passagem da criança para o adulto, mas atualmente até mesmo o autor diz que soa estranho. Nenhuma adaptação sequer pensou em adaptar tal cena. A época em que foi escrita era diferente e estamos falando de Stephen King, que escreveu seus maiores sucessos envolvido em bebidas e drogas. Passado é passado. O diretor da nova adaptação já se lamentou por terem pessoas que julgam a obra apenas por isso.

Na vida real, outra polêmica surge: Palhaços reclamando que a obra traz uma imagem negativa deles. King já pediu desculpas pelos ocorridos, mas disse que não se pode julgar a obra, já que crianças sempre tiveram medo de palhaços.

Quanto ao filme em si, ele não tem medo de ser polêmico. Vemos Bev fumando, Richie fazendo as mais diversas piadas maldosas estilo quinta série sobre o tamanho do seu órgão, e por aí vai. Há ainda uma cena com todos tomando banho no lago apenas com roupa de baixo e depois com os garotos babando pela Bev. Do jeito que o mundo está, pensar que nada disso causará rebuliço torna-se complicado, mas no longa é passado pela visão inocente de crianças que querem apenas aproveitar o momento vivendo em seus mundinhos.

Vendo da forma correta

Quem espera um filme de terror, pode sair decepcionado. Nunca foi o foco, por mais que seja usado como venda. Afinal, a empresa tem que vender o produto e um filme sobre um palhaço assassino tem tudo a ver com... "terror", no sentido mais tosco e superficial da palavra. Mas terror não se resume a sustos. É um equívoco que faz muitas boas obras acabarem caindo no desgosto. O jeito é se desapegar dos rótulos comerciais e aproveitar a obra pelo que ela é, como li uma vez pela internet e achei interessante a observação.

Com suas cenas alternando entre o humor, o drama e o terror, ou também misturando, It consegue mostrar com naturalidade, apegado a uma época remota, adicionado ao clima nostálgico e aproveitando o ambiente pequeno, uma história de superação, como já foi reforçado diversas vezes ao longo da crítica. A forma que a trama é conduzida é fantástica e tudo ao seu tempo, sem pressa de chegar logo em determinado acontecimento.

Apegado ao clima oitentista, o longa literalmente traz crianças enfrentando seus medos. E um palhaço das trevas. Alguns podem até lembrar de Stranger Things, ou uma versão mais pesada da série, mas a série é que se inspirou em It. Talvez o novo filme tenha se inspirado em alguns quesitos visuais, mas apenas. Que venha o Capítulo 2 com os personagens adultos nos dias atuais! Já que estão seguindo mais os livros, talvez poderemos ver o universo de It se expandindo para muito além de um mero palhaço de origem misteriosa. Aguardemos novidades.

Curiosidade: Assistiram A Torre Negra? Uma das cenas faz menção a It, onde os personagens estão em algo que outrora foi um parque. Na placa diz "Pennywise". Aliás, na saga de livros, há referências a diversas obras do autor, como se tudo fosse conectado.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Death Note (2017)

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Death Note (2017)

Uma coisa que os fãs sempre cobram quando veem suas obras adaptadas é a fidelidade. Adaptar uma obra tão famosa como Death Note é, e sempre será, motivo de preocupação para os fãs mais aficionados.

Quando se trata de uma obra asiática sendo convertida para uma produção americana, o medo cresce. Não é a toa; existe um legado de produções do tipo detonadas por crítica e público, como se fossem uma desonra para a obra original. Mas, se nem os japoneses conseguiram agradar a todos com suas versões, quem dirá os Estados Unidos.

A obra com roteiro de Tsugumi Ohba e arte de Takeshi Obata surgiu em 2003 como mangá e teve, ao todo, 12 volumes. Na trama, o estudante Light, através de seu alter-ego intitulado Kira, punia todos em seu caminho que considerasse podre para a sociedade. Para isso, ele usava um caderno sobrenatural onde, aquele que tivesse seu nome escrito nele, seria morto. Rapidamente ele começa a ser perseguido pelo misterioso detetive L.

Com o sucesso, não tardou para as adaptações virem. Em seus 10 anos após o fim do mangá, entre 2006 e 2016, foram lançados um anime, dois livros, dois filmes animados resumindo o anime, quatro filmes com atores reais, um dorama (ou seriado) e três musicais teatrais.

Leia mais: A trajetória da franquia Death Note

A adaptação americana

Como de costume, também não demoraria para uma versão americana ser planejada. Há relatos de 2007 sobre a adaptação. Em 2011, Shane Black (Homem de Ferro 3), que dirigiria o filme na época, chegou a dizer que queriam tirar o shinigami (deus da morte) e deixar o Light bondoso, o que quase fez o projeto ser cancelado.

Apenas em 2015 a Warner confirmou que o filme sairia, contratando Adam Wingard (Bruxa de Blair) como diretor e Jeremy Slater (Quarteto Fantástico) como roteirista, mas, devido a redução de custos, o projeto foi cancelado. No ano seguinte, Wingard vendeu o projeto para a Netflix, que decidiu comprar os direitos da Warner e seguir em frente, mantendo a equipe que trabalhava no longa. Agora, em 2017, o longa finalmente viu a luz do dia.

Para aqueles de mente aberta, os filmes em live-action e o seriado (ou dorama) podem ter sido uma grata surpresa. Para os de mente fechada, foi uma sofrência sem limites. Curioso que os próprios criadores do mangá chegaram a elogiar o primeiro filme numa entrevista, que acabou sendo publicada no "13º volume" do mangá, uma enciclopédia com informações da obra. Não que seja para levar a sério, visto que eles também elogiaram a adaptação americana.

Depois de muitos adiamentos, a versão americana finalmente saiu pela Netflix. Será que valeu a pena esperar todo esse tempo ou ele deveria nunca ter saído do papel? A resposta é... não, não valeu a pena. Mas espere, não foi de todo ruim.

O resultado

Uma das reclamações mais sem sentido em relação ao filme foi a nacionalidade dos atores. Ora, visto que era uma adaptação americana se passando nos Estados Unidos, por que deveria ter atores japoneses? Infelizmente o diretor não soube responder e, antes do filme ser lançado, disse que havia procurado um ator japonês para o L, mas não encontrou.

Era melhor ter ficado calado. Num país vasto como aquele, difícil não ter encontrado ninguém. Não sei o que é pior: isso ou o fato dele não saber que o L não é japonês, mas sim britânico. O diretor tentou se justificar depois pela escolha do elenco, mas só piorou a situação. Mas vamos ao filme.

Uma das coisas que mais atrai em Death Note, seja mangá ou anime ou qualquer uma das outras adaptações, é a inteligência dos personagens. A interessante trama de um caderno que pode matar apenas escrevendo o nome da pessoa é agregada aos personagens que formaram sua história.

Dentre os diversos personagens, temos Light, um estudante com vontade de fazer justiça e ser o "deus do novo mundo"; L, um detetive obcecado por doces que quer prender Kira por não concordar com sua ideologia; Misa, uma garota alienada fã do Kira que faz tudo o que ele deseja; Ryuk, um deus da morte que se diverte com os humanos e é proprietário do caderno que está com Light; Remu, outro deus da morte que cuida de Misa; entre diversos outros personagens, como a equipe de investigação, a policial, etc.

E o que isso tem a ver com o filme? Não muito. Trazendo uma releitura de toda a obra, a versão da Netflix decidiu seguir um caminho mais curto, até para não comprimir 12 volumes / 37 episódios em cerca de uma hora e meia. O problema foi a história rasa e os personagens contraditórios. Tudo bem que é uma adaptação (há quem diga que não), mas isso não é garantia de qualidade nem protege o resultado de críticas. As adaptações japonesas conseguiram, por mais que o público otaku daqui seja dividido quanto a isso.

Na nova versão, Light Turner (Nat Wolff) é um estudante rejeitado que faz o dever de casa dos outros em troca de dinheiro. Certo dia ele encontra um Death Note, pertencente ao shinigami Ryuk (Williem Dafoe), e logo conta seu segredo para Mia Sutton (Margaret Qualley). Apaixonados, os dois iniciam a busca por um mundo melhor sob o nome de Kira, mas logo começam a conflitar entre si e a serem perseguidos por L (Keith Stanfield), um detetive que quer a qualquer custo deter Kira. O pai de Light, James Turner (Shea Whigham) é chamado para se unir a L, que possui alguns informantes, como seu cuidador Watari (Paul Nakauchi).

Se no anime Light era aquele cara inteligente e cuidadoso, na nova versão vemos um rebelde e medroso, além de possuir uma relação conturbada com seu pai. L, que era o oposto de Light mesmo tendo muito em comum, aqui é um cara que age por emoções acima da razão. 'Misa', ao invés de submissa, é independente e também quem toma atitudes mais radicais em nome de Kira. E, se no original Light se aproveita de Misa, aqui os dois são um casal apaixonado e nada mais. E não existe Remu nem outro Death Note, apenas Ryuk e seu caderno.

A versão também traz mudanças quanto as regras do caderno. No original, caso o portador não quisesse o caderno, era apenas dizer e pronto. Nessa versão, ele tem que ficar sem usar por sete dias. De acordo com o diretor, nenhuma regra foi mudada, apenas acrescentada, o que talvez explique o furo de roteiro quando Light diz não querer mais e que Ryuk poderia levá-lo, mas não leva. Outro ponto que descarta a afirmação do diretor é a de que ninguém vê o shinigami mesmo encostando no caderno, enquanto no original é regra: quem encostar verá.

Falando em furos, os personagens parecem não possuir rumo, sendo até mesmo contraditórios. Espera-se de uma investigação o menor cuidado possível. Estamos falando de uma equipe caçando o maior assassino de todos. Mas o que vemos é Light e L brigando entre si na frente de todos e sem cuidado para esconder.

No original, embora L nunca tenha escondido que suspeitava de Light, ele sempre buscou formas de acusá-lo. Na nova versão isso não existe, L apenas enfrenta Light esperando que dê certo.

Outro problema vem com Light. No original ele tem cuidado para não mostrar o caderno para ninguém. Aqui ele sequer esconde o caderno. Quando Mia pergunta para ele o que é, ele conta quase que imediatamente. Isso além do fato dele se amedrontar mesmo matando um monte de pessoas. Seu instinto de bem e mal é muito normal para sua psicopatia.

Os temas tratados na obra original, como o que é justiça, quem está certo ou errado, o que se deve fazer com criminosos, etc, aparece no longa de forma superficial. Está lá apenas por estar, mas não existe um aprofundamento.

O que atrapalha todo o desenvolvimento do filme é a insistência dos roteiristas de manterem elementos do original em algo completamente diferente. Sim, é uma releitura, é baseado numa obra já existente, adaptado para os costumes nacionais, mas, tendo em mente que seguiriam algo diferente, porque colocar o máximo possível de ideias do original mesmo que soe forçado? O resultado é uma trama corrida onde nada leva a nada.

Mas nem tudo está perdido. A releitura americana consegue manter a ideia da obra (e apenas ela mesma), embora se perca em sua própria premissa. Em contrapartida, temos um visual atraente, sombrio, com direito a cenas escuras, jogadas de câmera e enquadramento e também um toque de gore nas cenas de morte. A trilha, apesar de duvidosa sem alguns momentos, funciona na maior parte do tempo.

Difícil dizer como Death Note foi de um jogo de gato e rato para um romance adolescente e uma perseguição entre dois caras irritados, mas o que foi feito está feito e não se pode voltar atrás. Ao fim, a obra não é tão ruim quanto alguns consideram, mas não chega a ser bom. Com um péssimo final aberto, a história se "encerra", mas deixa gancho caso tenha continuação. Wingard diz que está esperando o sinal verde da Netflix. E você, quer uma continuação ou já foi o suficiente? O que poderiam contar no próximo filme visto que quase tudo do original foi desperdiçado aqui? Apoia uma franquia americana própria livre da obra original assim como a japonesa fez?

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Tom & Jerry - Willy Wonka e A Fantástica Fábrica de Chocolate

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Tom & Jerry - Willy Wonka e A Fantástica Fábrica de Chocolate

Em 1971, lançava o que viria a ser conhecido no Brasil como "A Fantástica Fábrica de Chocolate". O filme, baseado no livro de mesmo nome, trazia uma história sobre Charlie Bucket (Peter Ostrum), um garoto humilde que morava com sua família e desejava compra uma barra de chocolate do famoso e misterioso Willy Wonka (Gene Wilder), que estava abrindo sua fábrica para aqueles que achassem cupons dourados em seus produtos. Sem dinheiro, ele via crianças birrentas ganhando e se entristecia, até que finalmente conseguiu. Entretanto, ao entrar na fábrica com seu avô, ele descobriu que Wonka não era nada do que imaginava.

O longa foi um musical marcante, sendo bastante elogiado. Exceto pelo escritor do livro, que odiou e proibiu que seus livros fossem novamente adaptados (talvez por isso nunca tenha tido continuação). Mas quem se importava? A crítica e o público amaram o que viram. Hoje é considerado um dos melhores filmes já feito. Gene Wilder imortalizou a imagem de Willy Wonka e seu mundo fantástico de "pura imaginação". O curioso é que o filme também ficou conhecido por ser um tanto quanto perturbador, principalmente na cena em que os personagens atravessem um rio de chocolate dentro de um túnel.

Apesar da proibição de adaptação, a Warner conseguiu em 2005 permissão para um remake, dirigido por Tim Burton e com Johnny Depp no papel de Willy Wonka. Com um visual mais atual, é o que mais passa na televisão atualmente. Felizmente não é dele que falarei aqui. Não que seja ruim, longe disso.

Em comemoração aos 45 anos do lançamento do longa original e em homenagem a Gene Wilder, falecido ano passado, uma versão animada do longa começou a ser produzida. Não uma versão qualquer, mas sim um encontro de Tom & Jerry com o filme. Os dois personagens clássicos dos desenhos da Hanna-Barbera (atualmente pertencente a Warner) já estrelaram diversos longas e alguns encontros, como com O Mágico de Oz e Sherlock Holmes. Dessa vez, estavam estrelando um longa com A Fantástica Fábrica de Chocolate.

A ideia de unir Tom & Jerry com A Fantástica Fábrica de Chocolate nem de perto parece boa (quem pensou nisso?) e sequer parece fazer sentido, mas no resultado é perceptível um cuidado com o filme original. Conseguem cumprir o objetivo. Não que isso signifique que o resultado seja bom. Grande parte do longa soa como uma versão resumida animada do original, com direito a enquadramentos, diálogos, músicas, etc, idênticos ou semelhantes. A grande diferença fica pela inserção de Tom & Jerry na trama, cuja influência se torna duvidosa, resultando em novos acontecimentos que servem apenas pro propósito da animação, que é criar um encontro entre as duas franquias. Os dois personagens possuem seus bons momentos, mas não é sempre.

O primeiro encontro entre os personagens ocorre durante as comuns brigas entre Tom e Jerry. Charlie está entregando jornais até que vê um gato prestes a comer um rato e acaba batendo no gato. Tom sempre se machucando. Charlie dá um pão pra eles e o outro leva para casa. Durante o filme eles sempre se encontram em algum momento, tanto dentro quanto fora da fábrica. Isso gera mudanças opcionais na trama, apenas detalhes de acréscimo. Sem mudar os acontecimentos do original, o longa insere momentos que apenas esticam o ocorrido, mas o resultado final é o mesmo.

A animação tira proveito de alguns elementos do filme original para desenvolver o encontro das franquias. Há fillers que nada acrescentam na trama, como a de Tom e Jerry roubando uma caixa de chocolates e devolvendo depois e a deles indo atrás do avô de Charlie porque ele esqueceu o bilhete dourado em casa. Apesar dessas cenas, há outros fillers que trazem novidades: No filme original é citado que Wonka tem um rival. Na animação isso cria uma trama adicional onde Tom, Jerry e um rato Oompa-Loompa são perseguidos dentro da fábrica por esse rival e por um cão policial que está traindo Wonka. Na cena do túnel, ironizam a questão dele ser considerado assustador no original. Numa das cenas de perseguição entre os personagens, máquinas da sala de invenções são usadas em meio a briga. E por aí vai. Existe um aproveitamento de ideias, tanto boas quanto ruins.

Ao fim, a animação serve mais pra apresentar o longa original para as crianças e é uma forma para os saudosistas relembrarem a trama, embora eu prefira muito mais rever o original. Descartável, mas não ruim, por mais que tenha sido execrado pela crítica, como se fosse uma ofensa ao original. Não é, o original continua lá para ser visto e revisto. Pelo menos tentaram resgatar a obra com algum diferencial.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Sharknado 5 - Voracidade Global

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Sharknado 5 - Voracidade Global

Em 2013, a Syfy, famosa por filmes toscos e de qualidade duvidosos, lançou Sharknado, um filme com a premissa de tornados com tubarões. Foi tão ruim e inusitado que caiu no gosto do povo (por algum motivo está com 82% de aprovação no Rotten Tomatoes). No ano seguinte, uma continuação veio com a mesma premissa. E assim a franquia continua até hoje. Adotando a zoeira a partir do terceiro filme, a franquia passou de filmes mal feitos propositalmente para filmes mal feitos propositalmente com diversão. Se antes seguia um estilo "sério", apesar dos pesares, agora abraçava o cômico para ir além e expandir seu universo. Sim, Sharknado evoluiu ao seu próprio universo.



O terceiro longa trouxe novidades para a franquia e deu indícios do rumo que ela tomaria, principalmente ao final, com tubarões indo para o espaço e referências a Star Wars. A cena inclusive foi revelada por David Hasselhoff, que atuou no filme, antes mesmo do lançamento do mesmo. Se isso não é prova do nível que estavam tomando, então não sei o que pode ser considerado como tal. O quarto filme, que considero o melhor até o momento, só confirmou. Nele, diversas tecnologias são criadas para estudar e combater sharknados. O problema é que os sharknados começam a mudar, ganhando outros elementos, como areianado, fogonado, águanado e tudo o que tem direito. Agora, em seu quinto longa, a franquia infelizmente deixa quase tudo de lado para criar uma infestação global de sharknados.



A trama se inicia com Nova (Cassandra Scerbo) descobrindo uma caverna. Ela chama Fin (Ian Ziering), protagonista da franquia, que estava junto com sua esposa ciborgue April (Tara Reid), também protagonista, e seu filho Gil (Billy Barratt) visitando a realeza britânica. Quando ele chega no local, os dois veem desenhos que supostamente relatavam que os sharknados sempre existiram. Eles então pegam uma pedra misteriosa e o caos mundial começa. Diversos sharknados começam a surgir ao redor do mundo e a destruir tudo. Depois de um tempo de destruição e referências, o filho do casal é sugado por um sharknado e fica preso por lá. Como? Ele está usando um capacete de proteção contra sharknado. Sério. Depois de salvar o Palácio de Buckingham, o casal parte em busca de ajuda.



A premissa do longa é se passar em vários países. Isso é resolvido de forma "simples": O sharknado que Gil está preso possui um vórtice que transporta os protagonistas de um país a outro. Basta pular dentro dele e pronto. Como só os protagonistas são sugados para lá e vão parar em outro país, enquanto o resto é apenas morto ou destruído e seu filho continua preso... talvez a pedra que pegaram na caverna tenha culpa nisso. Ela atrai o sharknado, justamente o que o garoto tá preso, e cria um vórtice no meio. Muita coincidência.



Dentre os diversos países, temos a Austrália, onde a Ópera de Sydney é transformada numa base secreta armada. É muita viagem e criatividade. Temos até mesmo uma passagem memorável no Brasil. São minutos de puro filler que trazem um pequeno e dispensável arco pra trama, onde a pedra do Sharknado é roubada e uma perseguição é iniciada. O que vemos são mais bizarrices num lugar que não lembra nada o Rio de Janeiro e ainda mistura placas em português e inglês. Nem mesmo o Cristo Redentor escapa.



Na parte do Brasil temos a participação especial de um youtuber brasileiro do Parafernalha. Aliás, há diversos famosos e pseudos, como a franquia costuma fazer. São tantos que fica difícil identificar todos. Tem atores, cantores, esportistas, celebridades, etc. Para os olhos mais atentos e conhecedores, se torna uma divertida busca de easter-eggs. Para os cinéfilos de plantão, o filme também é repleto disso em relação a filmes. O início do longa, por exemplo, é parte inspirado em Indiana Jones (com direito a fonte idêntica no título) e Missão Impossível. Na primeira devastação, no Reino Unido, tem um integrante da banda Poison que participa de uma pequena cena fazendo uma tosca referência ao último Mad Max.



Analisar Sharknado é uma tarefa difícil. O filme não é feito para ser levado a sério e, sabendo disso, se utilizam da mais completa zoeira para criar momentos absurdos e propositalmente toscos. Furos de roteiro, forçações de acontecimentos, quebra de continuidade, falta de noção de tempo e espaço, ações exageradas e outras viagens (problemáticas ou não) são propositais. Criticar algo do gênero pode ser complicado, mas, tendo noção do que está sendo criticado, é válido. O longa possui o padrão da franquia, mas deixa de lado diversos elementos, justamente os melhores (em especial os apresentados no quarto filme) em prol de uma franquia onde cada filme se foque apenas em uma diferenciação. Mas, como acabei de dizer, ainda mantém o padrão. Como diz a popular frase: "É tão ruim que é bom". Ou "Filme ruim é bom demais". Isso é Sharknado. E, como os últimos longas, acabam por deixar um gancho para o próximo. Que venha o sexto filme! Promete ser grandioso, na medida do possível, com viagens no tempo.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Resident Evil: Vingança

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Resident Evil: Vingança

A franquia Resident Evil sempre teve dois públicos principais: Os dos jogos e os dos filmes. Muitos gamers odeiam os longas cinematográficos pelo fato de se distanciarem dos jogos, embora os filmes tenham diversos elementos dos jogos inseridos neles. Apresentando uma protagonista inédita (Alice), os live-action de qualidades variáveis eram focados na ação, com exceção, talvez, do primeiro, que é o mais bem aceito e considerado mais "suspense" quando comparado com os posteriores.

Sendo mais conhecido pelos fãs dos jogos, a atual leva de animações está sendo melhor recebida. Iniciada em 2008 com Degeneração, lançado um ano após a primeira trilogia com atores ter sido temporariamente encerrada, o primeiro longa animado da franquia respeitava a base dos jogos, inclusive se passando no mesmo universo deles, mais especificamente entre os jogos RE 4 e 5, e trazia Leon como protagonista. A continuação, Condenação, veio apenas anos depois, em 2012, se passando entre RE 5 e 6. E agora, em 2017, chega Vingança, sendo o primeiro a ser lançado no cinema e em 3D.

A trama se situa entre os jogos RE 6 e 7 e pela primeira vez nas animações se passa numa cidade real: Nova Iorque. Diferente dos longas anteriores, o protagonista da vez é o agente Chris Redfield, que está atrás do comerciante de armas biológicas Arias. O antagonista busca vingança pelo governo americano ter literalmente jogado uma bomba em cima do local onde ele estava durante seu próprio casamento, matando todos os presentes (menos ele, claro).

Tão importante quanto Chris, quem recebe grande destaque é a cientista Rebecca Chambers (para os gamers de plantão, ela é do primeiro jogo da franquia, assim como o Chris). Trabalhando no ramo de biotecnologia, Rebecca cria uma cura para o vírus que está se espalhando e trazendo os mortos de volta a vida. Ela logo é atacada, revelando que Arias sabe mais do que pensavam. E, para fechar o trio, temos Leon S. Kennedy, que aparece menos que os anteriores, mas está lá. Ele está de férias sofrendo pela perda de sua equipe quando o envolvem na história.

Visualmente a animação está ótima, superando (e muito) seus antecessores. Quanto ao roteiro, há observações. Assim como as animações japonesas baseadas em jogos costumam ser, Vingança não explica tudo o que deveria. O universo já existe e apenas quem já está familiarizado com ele irá entender tudo. Para quem jogou os jogos, ótimo. Para quem não jogou, mas conhece o universo, ainda dá, basta aceitar o que vier. Para quem nunca jogou e caiu de paraquedas no filme, apenas aceite o que vier também.

As cenas de ação são o grande trunfo da animação, com direito a tiros e mais tiros. E tudo sem perder o lado do horror, com destaque para a cena noturna inicial dos agentes invadindo a mansão. Existe um equilíbrio e é possível notar uma mudança de ritmo com o passar do tempo. Assim como nos jogos, o filme começa se focando mais no horror para depois se focar mais na ação.

Voltando para a ação, algumas poucas cenas exageradas acabam deixando a desejar. Apesar de todo o lado fictício que existe em Resident Evil, incluindo seus lados mais viajados, sua pegada costuma ser realista. E justo quando o longa decide se passar num lugar que existe de verdade, cenas como a do Leon na ponte e de um tiroteio no terceiro ato envolvendo o Chris podem soar bastante exageradas. Não que estrague a experiência, não diminui a empolgação que o longa entrega, mas detalhes são detalhes e as mudanças perceptíveis. Felizmente, como você, caro leitor, deve ter percebido (espero), são poucas as cenas assim. Em sua maioria, está bem feito e convincente.

Muito se dizia sobre a animação ser um reboot, acreditava-se até que seria uma espécie de remake do primeiro jogo num universo paralelo, mas a Capcom anunciou que é apenas uma sequência mesmo. Tudo bem então. Aceitemos. Entre altos e baixos, o terceiro e talvez melhor capítulo animado dos zumbis é um avanço para a franquia, oferecendo espaço para novos personagens. Resta esperar o rumo que a Capcom irá tomar. Levando em conta que se baseiam nos jogos, um quarto longa só quando sair Resident Evil 8. Bem que poderiam criar animações para os anteriores (tem o curta de 2000 pós RE3, mas não conta) ou até mesmo sem ligações com os jogos (como um universo paralelo mesmo). Potencial não falta.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Okja

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Okja

Movido a polêmicas, Okja causou uma enorme confusão no Festival de Cannes, não pelo conteúdo do filme, mas pela produção Netflix. Um longa feito para um serviço de stream estreando no cinema? O suficiente para que vaias ocorressem e o filme fosse proibido de estrear nos cinemas de alguns países do qual estava programado. Ironicamente, após a exibição, Okja foi ovacionado. Os críticos gostaram e precisaram engolir o ódio pela diferença de plataforma. Não que isso tenha impedido os boicotes dos cinemas.

Bong Joon-Ho é o diretor do longa. Famoso de longa data na Coreia do Sul, já dirigiu e roteirizou filmes como Memórias de um Assassino (2003), O Hospedeiro (2006) e Expresso do Amanhã (2013), sendo esse último conhecido mundialmente graças ao elenco internacional de peso. De acordo com ele, a escolha da Netflix como produtora foi devido a falta de liberdade sobre Expresso do Amanhã, chegando a ter que cortar várias cenas do longa para o mercado ocidental.

Querendo liberdade para sua produção, inspirado com pensamentos sobre a escolha do ser humano sobre que animal comer e que animal ser amigo e vivendo num país considerado por ele o "paraíso do churrasco", para seu novo filme ele decidiu contar uma história de uma garota e sua porca que veem sua amizade ameaçada pela indústria alimentícia. O porco, de acordo com ele, é o animal mais relacionado a alimentos, por isso a escolha. A produção do filme, inclusive, o impactou ao ponto dele passar a comer apenas carne de peixe e frutos do mar. Mas isso abordarei mais ao final. Vamos para a crítica.

Como se fosse um live-action do Studio Ghibli (inclusive há referências, como Totoro), Okja se inicia em 2007, nos Estados Unidos, onde Lucy Mirando (Tilda Swinton), dona da empresa Mirando, explica sobre seu projeto de diminuir a fome no mundo através de superporcos. O projeto de 10 anos envolve mandar 26 superporcos, um para cada país, para que sejam cuidados por fazendeiros e cresçam. Uma década se passa e o longa vai para a Coreia do Sul, onde acompanhamos a tranquila vida da simpática garota Mija (Ahn Seo-Hyun) e a superporca Okja, que dá nome ao filme. Mija (ou Mikha) vive com seu avô e a porca até que uma equipe de televisão chega para filmar a porca num programa apresentado pelo insuportável doutor Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal). Só que tudo faz parte do plano de levar Okja embora. Desesperada e se sentindo traída por seu avô por não ter avisado, Mija decide fugir de casa e ir atrás de Okja. Se antes o clima do filme era tranquilo, a partir daí as coisas começam a mudar.

Num vai e vem de acontecimentos, onde uma coisa leva a outra como um efeito borboleta e o filme vai mudando de clima, Mija demonstra ser uma forte personagem. Ela acaba recebendo ajuda da ALF ("Frente pela Libertação Animal" em português), um grupo que, como o nome diz, luta pelos direitos dos animais. Liderada por Jay (Paul Dano), a equipe é composta por K (Steven Yeun), Red (Lily Collins), Blond (Daniel Henshall) e Silver (Devon Bostick). Juntos, eles tentam impedir a empresa Mirando de matar Okja.

Enquanto o grupo da ALF age, o longa também acompanha a empresa Mirando lidando com toda a situação. As cenas de diálogos são interessantes e mostram Lucy conversando com outras pessoas de sua empresa sobre o que fazer e como se aproveitar da situação. É o outro lado da história. A questão de herói e vilão ainda não está desenvolvida, apenas lados de uma situação envolvendo um caso inusitado de uma garota que quer salvar a preciosa porca, justamente a considerada a melhor do projeto.

O roteiro, apesar das reviravoltas, possui seu lado previsível e alguns "furos" para facilitar alguns acontecimentos na trama. Nada que atrapalhe a experiência e também nada mal feito, já que o resultado compensa qualquer problema e é bem trabalhado. Numa mistura de gêneros, alternando entre aventura, ação, drama e comédia, Okja demonstra o estilo sul-coreano de se fazer filme e resgata elementos já utilizados pelo diretor em algumas de suas produções anteriores, principalmente O Hospedeiro. Unindo-se com a alternância entre cenas em coreano, em inglês e até mesmo os dois, o longa acaba por realizar um encontro de personagens de países e línguas diferentes (como visto levemente em Expresso do Amanhã) e ainda se aproveita disso para a trama, não deixando ser um mero detalhe. Como os personagens da ALF dizem: "Tradução é sagrado". Que indireta.

Cada vez mais que o longa vai chegando a sua conclusão, mais as coisas vão ficando sérias. Durante o longa, questões sobre os animais como forma de alimentação são debatidos, mas não gratuitamente e apenas nos momentos certos. Por parte do grupo, eles defendem seus motivos para os animais não serem comidos. Por parte da empresa, vemos o lado comercial da história. Na verdade a empresa pouco está se importando para a questão de comer ou não comer, mas sim de vender e agradar o público.

Ao fim, Okja se torna uma grande aventura com uma grande crítica. Com um início explicativo e promissor, o longa tende a melhorar com o passar do tempo. Sua boa estrutura, história envolvente, personagens carismáticos (em parte) e escolha de atores fez até mesmo os críticos que vaiaram a produção por ser Netflix (claro que há motivos maiores envolvidos) a se redimirem e confessarem a qualidade da obra.

Vale observar que, assim como as atitudes do diretor de mudar seu hábito, o filme não é exatamente uma crítica ao fato de comer ou não carne, mas sim ao modo que a indústria alimentícia trata os animais. Ora, qual a diferença de deixar de comer um porco, mas comer peixe? A resposta está justamente no tratamento que o animal recebe antes da morte. Tudo depende do ponto de vista. O objetivo do longa não é impedir ninguém de comer carne (o elenco mesmo não parou), mas sim de se atentar mais ao mercado e aos animais. Existe uma grande diferença entre a empresa que mata o animal torturando ele e a empresa que mata seguindo normas para uma morte indolor.

A ideia de apego ao animal é humano. O porco é apenas um dos vários exemplos de animais. Assim como gostamos de brincar com cachorro, tem gente que gosta de come-los. Assim como comemos vaca, tem país que ela é sagrada. Reforço a ideia do filme não ser uma crítica direta ao consumo pessoal com um detalhe: A protagonista do filme comia frango normalmente ao mesmo tempo que amava sua porca. Outros motivos já expliquei ao longo da crítica. Logo, cada um tem sua visão sobre quais animais comemos ou deixamos de comer para nos tornarmos amigos. No mais, Okja é uma grande aventura, como também já disse anteriormente.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

Com cgi atrativo e algumas cenas exatamente iguais ao longa animado de 1995, os trailers da adaptação da obra cyberpunk Ghost in the Shell já aparentavam que Hollywood finalmente havia acertado numa adaptação de origem japonesa (embora já tivessem acertado antes). Mas também poderia ser uma bomba, e não apenas pelo vasto histórico de produções vergonhosas, mas pelo peso da obra original. Felizmente o resultado final foi agradável, mas não satisfatório.

A história original foi escrita por Masamune Shirow em formato de mangá em 1989, do qual o filme diz ser baseado, embora esteja claro que puxaram mais o anime. Shirow se inspirou bastante em Blade Runner (1982) para construir seu universo. É uma trama que envolve o conceito de vida atrelado a tecnologia de forma tão profunda e complexa em meio a humanos e ciborgues indagando sobre o real significado sobre a vida ou questionando a própria existência. A adaptação em anime de 1995 posteriormente serviu de forte inspiração para a famosa trilogia Matrix. Estamos falando de uma obra revolucionária que inspirou outra obra revolucionária que inspirou outra obra revolucionária. Nesse quesito, a adaptação americana fez jus a isso? Nem um pouco, mas ainda entregou um bom filme.

Dirigido por Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador), o longa se passa em 2029, onde a tecnologia evoluiu, há diversos hologramas pelas ruas e as pessoas fazem "melhorias" no corpo, vulgo implantes cibernéticos. A protagonista do filme é Major (Scarlett Johansson), que teve seu corpo destruído após um acidente, mas seu cérebro sobreviveu, mantendo assim sua 'humanidade' em seu novo corpo robótico. A todo momento ela se questiona sobre ser humano e sobre as máquinas. Ela comanda a Seção 9 de uma equipe especializada em crimes cibernéticos. O chefe da equipe é Daisuke Aramaki (Takeshi Kitano), o único que fala japonês no longa. Major ainda conta com a ajuda de Batou (Pilou Asbæk), que está sempre ao seu lado. Diferente do vilão da obra original, aqui temos um vilão que surgiu num dos derivados da franquia japonesa: Kuze (Michael Pitt), alguém misterioso que quer acabar com a empresa que criou a Major.

Basicamente o longa acompanha Major atrás de Kuze enquanto se questiona sobre a vida, dividindo-se entre longas cenas de diálogos e cenas de ação. E é um questionamento bem "básico" se comparado a obra original. O longa fica na mesma tecla o tempo todo. O quanto da Major é humana? Ela pertence a que grupo? Se ela é robótica, ela é igual aos outros robôs? Se ela é diferente, o que a torna diferente? Tudo se volta para Major. O foco é na Major. Mesmo com as reviravoltas marcantes, que trazem novos rumos para a trama, a insistência em se manter no mesmo questionamento chega a cansar. Claro, levando em conta que foi um filme feito para o público em geral, dá para entender.

Assim como no longa de 95, por mais que a versão hollywoodiana tenha mais ação, não exageram nem se resume a apenas isso. Não há tanta ação assim se considerarmos a duração total do longa, o que pode desagradar parte do grande público que não gosta do assunto (ainda mais se considerarmos que está sendo vendido como um blockbuster de ação). É um blockbuster diferenciado, arriscado, e que, de certa forma, deu certo. Mas voltando a ação, há boas cenas, como a da gueixa robô e a perseguição após o caminhão de lixo.

Ghost in the Shell já conta em sua franquia japonesa com diversos mangás, filmes, animes, etc, passando de mais de 10 produções, todas enriquecendo o vasto universo criado com o mangá. Em meio a eles, a adaptação americana se encontra como uma versão recente, que só o tempo dirá se ficará marcado ou não. Hollywood entregou um bom filme, com a essência fiel ao original, boa trama, bons personagens e ainda fez fanservice ao inserir cenas semelhantes. Só faltou se aprofundar no tema, 'desculpado' pela questão de público.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Power Rangers

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Power Rangers

Go! Go! Power Rangers! Mighty Morphin Power Rangers! A franquia americana da Saban "inspirada" (pra não dizer parcialmente copiada com autorização) na japonesa Super Sentai já existe a mais de duas décadas e, após mais de 20 temporadas e alguns filmes, finalmente retorna para os cinemas americanos numa releitura mais "adulta". A versão sombria busca trazer boa parte dos elementos da primeira série num universo repaginado, buscando agradar ao público que cresceu assistindo ao programa.

A nova versão é dirigida por Dean Israelite (Projeto Almanaque) e conta com uma equipe de roteiristas por trás: Ashley Miller e Zack Stentz (X-Men: Primeira Classe), Burk Sharpless e Matt Sazama (Deuses do Egito), John Gatins (Kong: A Ilha da Caveira), Max Landis (Poder Sem Limites), Shuki Levy (roteirista de algumas temporadas de Power Rangers, incluindo as primeiras) e Haim Saban (o próprio produtor da franquia).

Analisar um longa do tipo se torna uma tarefa complicada. Não digo por ele se sustentar pelo fator nostalgia, pois isso felizmente é só um complemento. A questão é em relação a supostos "spoilers". Quem quer se surpreender deve evitar tudo, mas quem acompanha notícias ou simplesmente viu o trailer e tem boa percepção, já percebe elementos sobre o filme que estão visíveis demais. O filme também já começa revelando alguns dos supostos "spoilers", ou seja, não é spoiler, resumindo-se apenas a diferenças e elementos não contados nos materiais de divulgação (e acredite: as confirmações por parte da divulgação são muito mais spoilers que as obviedades). Para evitar reclamações, tentarei não entrar em alguns detalhes.

Na trama, Zordon (Bryan Cranston) enterra as moedas do poder afim de que um novo grupo de rangers encontre-as futuramente. Milhões de anos se passam até que cinco jovens encontram as pedras num campo de mineração. Eles são o ranger vermelho Jason (Dacre Montgomery), a ranger rosa Kimberly (Naomi Scott), a ranger amarela Trini (Becky G), o ranger preto Zack (Ludi Lin) e o ranger azul Billy (RJ Cyler). Ok, mas e o verde? Pois então, a moeda verde está com a vilã do filme, Rita Repulsa (Elizabeth Banks). Zordon e Alpha 5 (Bill Hader) começam a treinar esses adolescentes para impedir que Rita destrua a Terra.

Logo na abertura do longa já é possível reparar nas grandes mudanças em relação ao clássico. Já deixam claro que o que está por vir é algo diferente, que pega a trama de Power Rangers, seus elementos e personagens, e cria uma versão inédita seguindo o mesmo molde, mas em outro estilo. Deixam mais "realista". Uma das mudanças foi ignorar aquele padrão utópico de adolescentes certinhos e colocar rebeldes revoltados (embora nem todos sejam) para ser os rangers. Outra mudança foi o visual. Os rangers se parecem mais com trajes do Homem de Ferro, o Alpha com um alien e a Rita com sei lá o que. O ambiente em que Zordon convocava os rangers era uma construção no meio do deserto, mas agora é uma nave alienígena enterrada embaixo de um portal embaixo da água entre precipícios onde nenhum humano vai. E esses são apenas alguns exemplos. A essência continua, mas repaginada.

Tanto a história quanto o humor possui referências a série 'original', como na cena do trailer em que o personagem asiático se torna o ranger preto e o personagem negro fica confuso. O longa ainda tira sarro de questões como o fato dos humanos escolhidos serem adolescentes despreparados em vez de alguém com mais "experiência". Numa das cenas, Alpha 5 faz piada comparando a variedade de etnia do elenco com as cores dos trajes. Mas o humor do longa não se resume a referências, claro, possuindo alívios cômicos válidos em determinados momentos.

Apesar do humor, o filme possui um tom bastante dramático. São adolescentes excluídos da sociedade, que sofrem preconceitos por algum motivo, que possuem problemas diversos. Eles acabam se unindo de forma involuntária e recebem uma missão de alguém que não conseguem confiar. O longa explora bem cada personagem. Isso acaba fazendo a história durar "mais", até por ser um filme de origem, e, por consequência, para alguns, pode cansar. Não que seja ruim. Para quem espera muita ação, vai se decepcionar bastante. É realmente um longa de drama de adolescentes rejeitados, mas muito decente. É um novo olhar sobre Power Rangers. A experiência é curiosa.

A pouca ação do longa é empolgante, mas fica devendo em alguns aspectos. Por um curto momento temos os rangers enfrentando os seres de pedra igual nas séries, de forma tosca mesmo (mas sem soltar faísca), mas no filme há um sentido para ser assim, não inseriram de qualquer jeito. Quem rouba a cena mesmo são os zords, ao som da música tema clássica. Mesmo se desviando de algumas partes do esquema padrão, a batalha final segue semelhante, com direito a monstro gigante e megazord. E isso não é spoiler.

A nova versão de Power Rangers criou um universo realista e sombrio para a franquia, trazendo elementos da série clássica e adaptando para algo cabível nesse novo formato. O resultado é interessante e pode agradar aos fãs da franquia por não fugir das origens. A continuação já foi confirmada e ainda tem muito o que explorar e com mais liberdade, ainda mais depois de um filme completamente de origem. Fiquem para a cena no meio dos créditos, aguardemos os próximos longas e é hora de morfar!

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Kong: A Ilha da Caveira

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Kong: A Ilha da Caveira

Kong é um ícone do cinema. Em mais de 80 anos o rei gorila ganhou diversas adaptações, sendo o original de 1933, os remakes de 1976 e 2005 e a batalha japonesa contra Godzilla os quatro filmes mais conhecidos com o personagem. Agora, numa repaginada, a Legendary retorna à franquia após uma década desde seu último longa para um prelúdio, tudo com o propósito de criar um universo interligado de monstros gigantes. Ou seja: O Kong foi pensado para lutar contra o Godzilla.

A trama ocorre em 1973 e os Estados Unidos sofrem pela perda (ou "desistência", como um dos personagens insiste em dizer) da Guerra do Vietnã. Com a tecnologia evoluindo, uma ilha é descoberta e uma equipe formada por soldados, cientistas e outras pessoas a mais é mandada para investigar essa nova ilha. Quem idealiza a exploração são o cientista Bill Randa (John Goodman) e o geólogo Houston Brooks (Corey Hawkins). A escolta militar é comandada pelo sargento Preston Packard (Samuel L. Jackson). São recrutados também o mercenário James Conrad (Tom Hiddleston), a fotógrafa Brie Larson (Mason Weaver), a bióloga San Lin (Jing Tian) e o geólogo Houston Brooks (Corey Hawkins), embora esses dois últimos participem da trama como se fossem figurantes da equipe principal.

Com um elenco de peso, quais as chances do filme dar errado? Muitas, claro. Escolha de elenco não define a qualidade do produto. Felizmente, Kong é um filme que entretém, mas apenas isso mesmo. O longa é bem objetivo: a equipe explorando a ilha e tentando sobreviver aos perigos. Os sobreviventes são divididos e acompanhamos cada grupo separadamente ao longo da trama. Há pontos positivos e negativos nessa escolha, como manter um foco no que está querendo ser mostrado e trabalhar melhor cada personagem em seu momento, mas também o risco de cansar o público em determinadas cenas reciclando diálogos e inserindo conteúdo indiferente. O roteiro não é o forte, mas é aceitável. O humor utilizado, piadas clichês inseridas aleatoriamente, agrada em parte, mas em outras são bastante mornas.

O que mais chama a atenção em Kong (filme) é o visual atraente, acompanhado de uma trilha sonora envolvente. Outro destaque são algumas das cenas de ação, com soldados de guerra enfrentando seres colossais, sendo o principal deles o famoso gorila Kong (personagem), que ainda não é rei, mas sim um deus da Ilha da Caveira. Embora deixem a desejar em alguns desses momentos, em outros acertam de forma a brilhar os olhos. O primeiro encontro com Kong é tão empolgante que o clima é de Apocalipse Now a cada quadro (inclusive o filme chegou a homenagear o épico longa de guerra num de seus posteres). É um festival de explosões e tiros, helicópteros caindo, soldados com metralhadoras atirando desesperadamente, uma verdadeira guerra. Um momento único a ser apreciado.

Mas o que compensam em alguns elementos, em outros deixam a desejar, como já demonstrei anteriormente. Quando se vê um filme sobre monstros gigantes, o mínimo esperado são monstros gigantes, óbvio. Kong até entrega certa quantidade, mas são tão poucos, um número tão minúsculo de seres para uma ilha justamente onde vivem esses seres. Isso resulta em poucas cenas com esses colossos, poucas marcantes, e, mesmo que cada vez costume parecer um novo, a sensação de falta permanece. O longa tem sua espécie principal graças a uma busca errônea de criar vilões para trama (afinal, o Kong só atacou porque fizeram besteira, ele não é "do mal", embora tenham personagens que considerem isso), mas e as outras criaturas? Só existe uma de cada espécie? Cadê todos?

O título do longa pode passar uma imagem diferente para alguns. Estamos falando de um longa sobre um gorila e sua ilha, mas o Kong sequer tem foco total para ele, nem deveria mesmo. Dos "monstros" (palavra totalmente errônea), ele é o grande destaque, quem cria um segundo objetivo no filme e faz a trama girar, mas a ilha é que é a personagem principal do longa, o ambiente que proporciona todos os desafios. O filme inclusive seria chamado apenas de Skull Island, mas muitos poderiam não saber que se tratava de Kong. É uma produção para a grande massa, então deveriam tornar tudo mais atrativo e aceitável para a maior quantidade de pessoas.

Entre tantas versões, 'Kong: A Ilha da Caveira' marca por ser inédito e apresentar um mundo a ser explorado. Embora tenha seus defeitos, o longa consegue entreter. A trama no passado pós-guerra torna tudo mais interessante e cria vínculos para um universo maior, universo este que está sendo construído. Por enquanto não teremos outro longa focado na Ilha, mas em 2020 teremos a tão aguardada batalha do século: Godzilla vs Kong. O filme foi criado para esse momento e não fizeram de qualquer jeito. Kong ainda está crescendo e, por mais sem noção que pareça o crossover, poderá se tornar um oponente forte para o lagartão. Para os fãs do Godzilla, há uma "surpresa" na cena pós-créditos (nada que não tenha sido revelado antes através de notícias, tanto que a cena quase foi cortada, mas para muitos poderá ser novidade [e a sensação de ver aquilo se realizando não tem preço]). Que venha Godzilla 2 e Godzilla vs Kong!

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Formado em jornalismo e futuro escritor de livros. Colunista de cultura pop. Cinema, quadrinhos, k-pop. O blog surgiu em 2008 com a proposta de reunir o que eu achava de interessante pela internet e evoluiu até se tornar algo mais original. Atualmente serve como um local de divulgação de links de matérias que escrevo para outros sites, rascunhos e alguns textos aleatórios.