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09 janeiro 2019

[GEEKABLE] [CRÍTICA] It - A Coisa

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

It - A Coisa

Já dizia Billy, de As Terríveis Aventuras de Billy & Mandy: "Palhaços são encarnações do mal supremo. Eles querem ser a espécie dominante no planeta e vão nos destruir quando conseguirem isso. Destruir legal!". Coulrofobia, ou medo de palhaço, é real. Existem estudos sobre o caso, buscando entender o motivo dessa aflição que algumas pessoas possuem. Como o entretenimento não perde a oportunidade, filmes com palhaços malignos ou referências dos mesmos em variadas obras costumam ser lançados.

Quem sofre desse mal, até mesmo filmes como o clássico trash Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, de 1988, pode se tornar assustador. Nesse caso nem o Bozo ajuda. Una a ficção com casos reais e pronto, o medo aumenta. E o cinema sabe muito bem como usar as situações ao seu favor. Seriam os casos do ano passado crimes reais, brincadeiras de mal gosto ou todas as opções? Talvez nunca saberemos, mas pegadinhas e ataques reais não faltam. E que tantas matérias do G1 tem a ver com a crítica? Tudo.

"It"

Dentre as diversas obras responsáveis pelo medo de palhaços, temos o livro It, do mestre do terror Stephen King. Lançado em 1986, a obra, com suas mais de mil páginas, logo fez sucesso. Em 1990, sua adaptação já surgia: "It - Uma obra prima do terror".

Na trama do livro e do filme, um dos personagens decide reunir todos os seus amigos do passado para retornar a sua antiga cidade. O motivo? A "coisa" estava de volta e eles precisavam enfrentá-la. Essa "coisa" tomava a forma de um palhaço e foi responsável por diversas tragédias. A história então intercalava entre o período adulto e infantil. A minissérie, que posteriormente foi unida como um filme de três horas, teve sua fama na época, mas hoje perdeu força e ficou ultrapassada, embora tenha seu valor.

Desde 2009 uma nova adaptação estava sendo planejada, mas nunca saía do papel. O diretor Guilhermo Del Toro chegou a demonstrar interesse, mas nada aconteceu. Ao longo dos anos o projeto foi avançando lentamente, como a ideia de dividir a obra em dois filmes com a primeira parte se focando nas crianças e a segunda nos adultos, mas só em 2016 as gravações começaram. Logo o filme ganhou a direção de Andrés Muschietti (Mama).

Apenas a primeira parte

Dito e feito, o Capítulo 1 de It se passa nos anos 80 (data adaptada para a nova versão), onde acompanhamos os personagens ainda crianças. Ignorados pelos adultos e tendo apenas uns aos outros, eles formam o Clube dos Perdedores (ou Clube dos Otários, como a dublagem ama lembrar [pelo menos não soou tão tosco como em Glee - O Filme]).

Definir cada membro do clube é impossível, mas vamos lá: O clube é formado por Bill (Jaeden Lieberher), o líder do grupo, que é gago e também irmão de George, primeira vítima do palhaço no filme; Richie (Finn Wolfhard), o boca suja que sempre faz piada de pinto; Eddie (Jack Dylan Grazer), o protegido pela mãe e que usa bombinha; Stan (Wyatt Oleff), o certinho e medroso; Ben (Jeremy Ray Taylor), o gordinho mais carismático de todos; Bev (Sophia Lillis), a única garota do grupo, que sofre nas mãos das colegas e do pai abusivo; e Mike (Chosen Jacobs), o único negro do grupo, que quer seguir seu rumo na vida mas é vítima de racismo.

São diversos personagens para um só filme, mas existe competência ao trabalhar com tantos. E nem citei todos. Temos as famílias das crianças, os moradores da cidade, etc. Todas as crianças do grupo sofrem nas mãos da gangue de Henry Bowers (Nicholas Hamilton). E não é coisa leve. Logo num dos primeiros ataques, Ben chega a ser cortado com uma faca. A cena é curiosa: Um carro passa pelo local, mas não liga e continua dirigindo. Um balão aparece. É o indício do sobrenatural na cidade de Derry.

O lado digno de um pesadelo que se tornou realidade vem do palhaço Pennywise (Bill Skarsgård). Depois de algumas vítimas, ele passa a assombrar as crianças, materializando seus maiores medos em sua frente. Suas cenas são carregadas de tensão e adrenalina, misturando o clichê do terror, com o não-clichê. As crianças fazem burrice igual o pessoal dos filmes de terror, mas aprendem com os erros e vão se preparando. Tem cenas que levam ao susto, mas também tem cenas que vão muito além disso, mostrando os personagens enfrentando seus medos.

O curioso é que o palhaço não sai por aí apenas matando, o que me leva a crer que ele também se alimenta do medo das crianças. Vale citar que apenas as crianças o veem. Prova disso é a sangrenta e exagerada cena a la O Iluminado da Bev no banheiro, onde seu pai não enxerga nada enquanto ela grita desesperada.

Superar o medo é a resposta

Ou seja: As crianças tem que suportar suas famílias problemáticas, o bullying fora de casa e ainda um palhaço assombrando elas. E mesmo assim estão lá, tentando viver suas vidas, se divertir e aproveitar as férias de verão que está apenas começando. É problemático pensar em It como uma obra de terror e unicamente disso.

Diferente do que muitos possam imaginar graças ao trailer, a história mistura elementos de drama e comédia também. Quando quer assustar, consegue criar um clima macabro. E não é só com o palhaço. Quando quer fazer rir, insere a malícia infantil da juventude perdida, mas não esquece da inocência. Quando quer dramatizar, mostra a perda dessa inocência e os traumas reais. Quando quer misturar, inserindo humor na tensão, por exemplo, conseguem de forma como se fosse a Marvel que deu certo. [nota: é apenas zoeira, gosto da Marvel]

É notável um cuidado ao tratar dos assuntos, mas nem por isso pegam leve apenas por serem crianças. Tentando fugir dos problemas, as cenas em que o clube está reunido é nostálgico e diverte. São crianças sendo o que são, sem medo de ser feliz. Quando estão sozinhas e com problemas, porém, o clima muda, vemos o drama em seus olhos, e essa alternância funciona bem graças ao roteiro e a ótima atuação dos atores. Cada um tem seu jeito de ser e o roteiro sabe trabalhar com eles tanto separadamente quanto em conjunto. Um exemplo é a Bev, que, quando está com os amigos, sorri e se sente feliz, mas em casa vive assustada e recuando para que seu pai não a agrida.

Existem vários paralelos com as situações, sobre o medo, sobre vencer o medo, do que realmente devemos ter medo. Isso é bem bacana. Pennywise representa o imaginário infantil, os pesadelos. O jeito das crianças serem reflete suas vivências em casa. A luta por respeito e a fuga dos problemas fortalecem os personagens. Passar por tanta coisa igual muita gente passa na vida real e ainda ter que aturar algo que desafia os limites da lógica? Algo que sequer sabem se é real ou não? Realmente interessante o resultado. Inclusive tem uma cena que o palhaço chega a perguntar "Eu não sou real o suficiente?", e faz ações com consequências reais que interferem no rumo das coisas.

Polêmica desnecessária

Uma das polêmicas do livro, que os haters e alguns sites de entretenimento estão amando relembrar sempre por trazer público, tem a ver com uma orgia infantil. Afim de unir o grupo perdido nos esgotos da cidade, Bev decide se relacionar com todos os garotos, um de cada vez.

A cena na época deveria ser uma demonstração de amadurecimento, da passagem da criança para o adulto, mas atualmente até mesmo o autor diz que soa estranho. Nenhuma adaptação sequer pensou em adaptar tal cena. A época em que foi escrita era diferente e estamos falando de Stephen King, que escreveu seus maiores sucessos envolvido em bebidas e drogas. Passado é passado. O diretor da nova adaptação já se lamentou por terem pessoas que julgam a obra apenas por isso.

Na vida real, outra polêmica surge: Palhaços reclamando que a obra traz uma imagem negativa deles. King já pediu desculpas pelos ocorridos, mas disse que não se pode julgar a obra, já que crianças sempre tiveram medo de palhaços.

Quanto ao filme em si, ele não tem medo de ser polêmico. Vemos Bev fumando, Richie fazendo as mais diversas piadas maldosas estilo quinta série sobre o tamanho do seu órgão, e por aí vai. Há ainda uma cena com todos tomando banho no lago apenas com roupa de baixo e depois com os garotos babando pela Bev. Do jeito que o mundo está, pensar que nada disso causará rebuliço torna-se complicado, mas no longa é passado pela visão inocente de crianças que querem apenas aproveitar o momento vivendo em seus mundinhos.

Vendo da forma correta

Quem espera um filme de terror, pode sair decepcionado. Nunca foi o foco, por mais que seja usado como venda. Afinal, a empresa tem que vender o produto e um filme sobre um palhaço assassino tem tudo a ver com... "terror", no sentido mais tosco e superficial da palavra. Mas terror não se resume a sustos. É um equívoco que faz muitas boas obras acabarem caindo no desgosto. O jeito é se desapegar dos rótulos comerciais e aproveitar a obra pelo que ela é, como li uma vez pela internet e achei interessante a observação.

Com suas cenas alternando entre o humor, o drama e o terror, ou também misturando, It consegue mostrar com naturalidade, apegado a uma época remota, adicionado ao clima nostálgico e aproveitando o ambiente pequeno, uma história de superação, como já foi reforçado diversas vezes ao longo da crítica. A forma que a trama é conduzida é fantástica e tudo ao seu tempo, sem pressa de chegar logo em determinado acontecimento.

Apegado ao clima oitentista, o longa literalmente traz crianças enfrentando seus medos. E um palhaço das trevas. Alguns podem até lembrar de Stranger Things, ou uma versão mais pesada da série, mas a série é que se inspirou em It. Talvez o novo filme tenha se inspirado em alguns quesitos visuais, mas apenas. Que venha o Capítulo 2 com os personagens adultos nos dias atuais! Já que estão seguindo mais os livros, talvez poderemos ver o universo de It se expandindo para muito além de um mero palhaço de origem misteriosa. Aguardemos novidades.

Curiosidade: Assistiram A Torre Negra? Uma das cenas faz menção a It, onde os personagens estão em algo que outrora foi um parque. Na placa diz "Pennywise". Aliás, na saga de livros, há referências a diversas obras do autor, como se tudo fosse conectado.

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Formado em jornalismo e futuro escritor de livros. Colunista de cultura pop. Cinema, quadrinhos, k-pop. O blog surgiu em 2008 com a proposta de reunir o que eu achava de interessante pela internet e evoluiu até se tornar algo mais original. Atualmente serve como um local de divulgação de links de matérias que escrevo para outros sites, rascunhos e alguns textos aleatórios.