09 janeiro 2019

[GEEKABLE] [CRÍTICA] It - A Coisa

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

It - A Coisa

Já dizia Billy, de As Terríveis Aventuras de Billy & Mandy: "Palhaços são encarnações do mal supremo. Eles querem ser a espécie dominante no planeta e vão nos destruir quando conseguirem isso. Destruir legal!". Coulrofobia, ou medo de palhaço, é real. Existem estudos sobre o caso, buscando entender o motivo dessa aflição que algumas pessoas possuem. Como o entretenimento não perde a oportunidade, filmes com palhaços malignos ou referências dos mesmos em variadas obras costumam ser lançados.

Quem sofre desse mal, até mesmo filmes como o clássico trash Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, de 1988, pode se tornar assustador. Nesse caso nem o Bozo ajuda. Una a ficção com casos reais e pronto, o medo aumenta. E o cinema sabe muito bem como usar as situações ao seu favor. Seriam os casos do ano passado crimes reais, brincadeiras de mal gosto ou todas as opções? Talvez nunca saberemos, mas pegadinhas e ataques reais não faltam. E que tantas matérias do G1 tem a ver com a crítica? Tudo.

"It"

Dentre as diversas obras responsáveis pelo medo de palhaços, temos o livro It, do mestre do terror Stephen King. Lançado em 1986, a obra, com suas mais de mil páginas, logo fez sucesso. Em 1990, sua adaptação já surgia: "It - Uma obra prima do terror".

Na trama do livro e do filme, um dos personagens decide reunir todos os seus amigos do passado para retornar a sua antiga cidade. O motivo? A "coisa" estava de volta e eles precisavam enfrentá-la. Essa "coisa" tomava a forma de um palhaço e foi responsável por diversas tragédias. A história então intercalava entre o período adulto e infantil. A minissérie, que posteriormente foi unida como um filme de três horas, teve sua fama na época, mas hoje perdeu força e ficou ultrapassada, embora tenha seu valor.

Desde 2009 uma nova adaptação estava sendo planejada, mas nunca saía do papel. O diretor Guilhermo Del Toro chegou a demonstrar interesse, mas nada aconteceu. Ao longo dos anos o projeto foi avançando lentamente, como a ideia de dividir a obra em dois filmes com a primeira parte se focando nas crianças e a segunda nos adultos, mas só em 2016 as gravações começaram. Logo o filme ganhou a direção de Andrés Muschietti (Mama).

Apenas a primeira parte

Dito e feito, o Capítulo 1 de It se passa nos anos 80 (data adaptada para a nova versão), onde acompanhamos os personagens ainda crianças. Ignorados pelos adultos e tendo apenas uns aos outros, eles formam o Clube dos Perdedores (ou Clube dos Otários, como a dublagem ama lembrar [pelo menos não soou tão tosco como em Glee - O Filme]).

Definir cada membro do clube é impossível, mas vamos lá: O clube é formado por Bill (Jaeden Lieberher), o líder do grupo, que é gago e também irmão de George, primeira vítima do palhaço no filme; Richie (Finn Wolfhard), o boca suja que sempre faz piada de pinto; Eddie (Jack Dylan Grazer), o protegido pela mãe e que usa bombinha; Stan (Wyatt Oleff), o certinho e medroso; Ben (Jeremy Ray Taylor), o gordinho mais carismático de todos; Bev (Sophia Lillis), a única garota do grupo, que sofre nas mãos das colegas e do pai abusivo; e Mike (Chosen Jacobs), o único negro do grupo, que quer seguir seu rumo na vida mas é vítima de racismo.

São diversos personagens para um só filme, mas existe competência ao trabalhar com tantos. E nem citei todos. Temos as famílias das crianças, os moradores da cidade, etc. Todas as crianças do grupo sofrem nas mãos da gangue de Henry Bowers (Nicholas Hamilton). E não é coisa leve. Logo num dos primeiros ataques, Ben chega a ser cortado com uma faca. A cena é curiosa: Um carro passa pelo local, mas não liga e continua dirigindo. Um balão aparece. É o indício do sobrenatural na cidade de Derry.

O lado digno de um pesadelo que se tornou realidade vem do palhaço Pennywise (Bill Skarsgård). Depois de algumas vítimas, ele passa a assombrar as crianças, materializando seus maiores medos em sua frente. Suas cenas são carregadas de tensão e adrenalina, misturando o clichê do terror, com o não-clichê. As crianças fazem burrice igual o pessoal dos filmes de terror, mas aprendem com os erros e vão se preparando. Tem cenas que levam ao susto, mas também tem cenas que vão muito além disso, mostrando os personagens enfrentando seus medos.

O curioso é que o palhaço não sai por aí apenas matando, o que me leva a crer que ele também se alimenta do medo das crianças. Vale citar que apenas as crianças o veem. Prova disso é a sangrenta e exagerada cena a la O Iluminado da Bev no banheiro, onde seu pai não enxerga nada enquanto ela grita desesperada.

Superar o medo é a resposta

Ou seja: As crianças tem que suportar suas famílias problemáticas, o bullying fora de casa e ainda um palhaço assombrando elas. E mesmo assim estão lá, tentando viver suas vidas, se divertir e aproveitar as férias de verão que está apenas começando. É problemático pensar em It como uma obra de terror e unicamente disso.

Diferente do que muitos possam imaginar graças ao trailer, a história mistura elementos de drama e comédia também. Quando quer assustar, consegue criar um clima macabro. E não é só com o palhaço. Quando quer fazer rir, insere a malícia infantil da juventude perdida, mas não esquece da inocência. Quando quer dramatizar, mostra a perda dessa inocência e os traumas reais. Quando quer misturar, inserindo humor na tensão, por exemplo, conseguem de forma como se fosse a Marvel que deu certo. [nota: é apenas zoeira, gosto da Marvel]

É notável um cuidado ao tratar dos assuntos, mas nem por isso pegam leve apenas por serem crianças. Tentando fugir dos problemas, as cenas em que o clube está reunido é nostálgico e diverte. São crianças sendo o que são, sem medo de ser feliz. Quando estão sozinhas e com problemas, porém, o clima muda, vemos o drama em seus olhos, e essa alternância funciona bem graças ao roteiro e a ótima atuação dos atores. Cada um tem seu jeito de ser e o roteiro sabe trabalhar com eles tanto separadamente quanto em conjunto. Um exemplo é a Bev, que, quando está com os amigos, sorri e se sente feliz, mas em casa vive assustada e recuando para que seu pai não a agrida.

Existem vários paralelos com as situações, sobre o medo, sobre vencer o medo, do que realmente devemos ter medo. Isso é bem bacana. Pennywise representa o imaginário infantil, os pesadelos. O jeito das crianças serem reflete suas vivências em casa. A luta por respeito e a fuga dos problemas fortalecem os personagens. Passar por tanta coisa igual muita gente passa na vida real e ainda ter que aturar algo que desafia os limites da lógica? Algo que sequer sabem se é real ou não? Realmente interessante o resultado. Inclusive tem uma cena que o palhaço chega a perguntar "Eu não sou real o suficiente?", e faz ações com consequências reais que interferem no rumo das coisas.

Polêmica desnecessária

Uma das polêmicas do livro, que os haters e alguns sites de entretenimento estão amando relembrar sempre por trazer público, tem a ver com uma orgia infantil. Afim de unir o grupo perdido nos esgotos da cidade, Bev decide se relacionar com todos os garotos, um de cada vez.

A cena na época deveria ser uma demonstração de amadurecimento, da passagem da criança para o adulto, mas atualmente até mesmo o autor diz que soa estranho. Nenhuma adaptação sequer pensou em adaptar tal cena. A época em que foi escrita era diferente e estamos falando de Stephen King, que escreveu seus maiores sucessos envolvido em bebidas e drogas. Passado é passado. O diretor da nova adaptação já se lamentou por terem pessoas que julgam a obra apenas por isso.

Na vida real, outra polêmica surge: Palhaços reclamando que a obra traz uma imagem negativa deles. King já pediu desculpas pelos ocorridos, mas disse que não se pode julgar a obra, já que crianças sempre tiveram medo de palhaços.

Quanto ao filme em si, ele não tem medo de ser polêmico. Vemos Bev fumando, Richie fazendo as mais diversas piadas maldosas estilo quinta série sobre o tamanho do seu órgão, e por aí vai. Há ainda uma cena com todos tomando banho no lago apenas com roupa de baixo e depois com os garotos babando pela Bev. Do jeito que o mundo está, pensar que nada disso causará rebuliço torna-se complicado, mas no longa é passado pela visão inocente de crianças que querem apenas aproveitar o momento vivendo em seus mundinhos.

Vendo da forma correta

Quem espera um filme de terror, pode sair decepcionado. Nunca foi o foco, por mais que seja usado como venda. Afinal, a empresa tem que vender o produto e um filme sobre um palhaço assassino tem tudo a ver com... "terror", no sentido mais tosco e superficial da palavra. Mas terror não se resume a sustos. É um equívoco que faz muitas boas obras acabarem caindo no desgosto. O jeito é se desapegar dos rótulos comerciais e aproveitar a obra pelo que ela é, como li uma vez pela internet e achei interessante a observação.

Com suas cenas alternando entre o humor, o drama e o terror, ou também misturando, It consegue mostrar com naturalidade, apegado a uma época remota, adicionado ao clima nostálgico e aproveitando o ambiente pequeno, uma história de superação, como já foi reforçado diversas vezes ao longo da crítica. A forma que a trama é conduzida é fantástica e tudo ao seu tempo, sem pressa de chegar logo em determinado acontecimento.

Apegado ao clima oitentista, o longa literalmente traz crianças enfrentando seus medos. E um palhaço das trevas. Alguns podem até lembrar de Stranger Things, ou uma versão mais pesada da série, mas a série é que se inspirou em It. Talvez o novo filme tenha se inspirado em alguns quesitos visuais, mas apenas. Que venha o Capítulo 2 com os personagens adultos nos dias atuais! Já que estão seguindo mais os livros, talvez poderemos ver o universo de It se expandindo para muito além de um mero palhaço de origem misteriosa. Aguardemos novidades.

Curiosidade: Assistiram A Torre Negra? Uma das cenas faz menção a It, onde os personagens estão em algo que outrora foi um parque. Na placa diz "Pennywise". Aliás, na saga de livros, há referências a diversas obras do autor, como se tudo fosse conectado.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Death Note (2017)

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Death Note (2017)

Uma coisa que os fãs sempre cobram quando veem suas obras adaptadas é a fidelidade. Adaptar uma obra tão famosa como Death Note é, e sempre será, motivo de preocupação para os fãs mais aficionados.

Quando se trata de uma obra asiática sendo convertida para uma produção americana, o medo cresce. Não é a toa; existe um legado de produções do tipo detonadas por crítica e público, como se fossem uma desonra para a obra original. Mas, se nem os japoneses conseguiram agradar a todos com suas versões, quem dirá os Estados Unidos.

A obra com roteiro de Tsugumi Ohba e arte de Takeshi Obata surgiu em 2003 como mangá e teve, ao todo, 12 volumes. Na trama, o estudante Light, através de seu alter-ego intitulado Kira, punia todos em seu caminho que considerasse podre para a sociedade. Para isso, ele usava um caderno sobrenatural onde, aquele que tivesse seu nome escrito nele, seria morto. Rapidamente ele começa a ser perseguido pelo misterioso detetive L.

Com o sucesso, não tardou para as adaptações virem. Em seus 10 anos após o fim do mangá, entre 2006 e 2016, foram lançados um anime, dois livros, dois filmes animados resumindo o anime, quatro filmes com atores reais, um dorama (ou seriado) e três musicais teatrais.

Leia mais: A trajetória da franquia Death Note

A adaptação americana

Como de costume, também não demoraria para uma versão americana ser planejada. Há relatos de 2007 sobre a adaptação. Em 2011, Shane Black (Homem de Ferro 3), que dirigiria o filme na época, chegou a dizer que queriam tirar o shinigami (deus da morte) e deixar o Light bondoso, o que quase fez o projeto ser cancelado.

Apenas em 2015 a Warner confirmou que o filme sairia, contratando Adam Wingard (Bruxa de Blair) como diretor e Jeremy Slater (Quarteto Fantástico) como roteirista, mas, devido a redução de custos, o projeto foi cancelado. No ano seguinte, Wingard vendeu o projeto para a Netflix, que decidiu comprar os direitos da Warner e seguir em frente, mantendo a equipe que trabalhava no longa. Agora, em 2017, o longa finalmente viu a luz do dia.

Para aqueles de mente aberta, os filmes em live-action e o seriado (ou dorama) podem ter sido uma grata surpresa. Para os de mente fechada, foi uma sofrência sem limites. Curioso que os próprios criadores do mangá chegaram a elogiar o primeiro filme numa entrevista, que acabou sendo publicada no "13º volume" do mangá, uma enciclopédia com informações da obra. Não que seja para levar a sério, visto que eles também elogiaram a adaptação americana.

Depois de muitos adiamentos, a versão americana finalmente saiu pela Netflix. Será que valeu a pena esperar todo esse tempo ou ele deveria nunca ter saído do papel? A resposta é... não, não valeu a pena. Mas espere, não foi de todo ruim.

O resultado

Uma das reclamações mais sem sentido em relação ao filme foi a nacionalidade dos atores. Ora, visto que era uma adaptação americana se passando nos Estados Unidos, por que deveria ter atores japoneses? Infelizmente o diretor não soube responder e, antes do filme ser lançado, disse que havia procurado um ator japonês para o L, mas não encontrou.

Era melhor ter ficado calado. Num país vasto como aquele, difícil não ter encontrado ninguém. Não sei o que é pior: isso ou o fato dele não saber que o L não é japonês, mas sim britânico. O diretor tentou se justificar depois pela escolha do elenco, mas só piorou a situação. Mas vamos ao filme.

Uma das coisas que mais atrai em Death Note, seja mangá ou anime ou qualquer uma das outras adaptações, é a inteligência dos personagens. A interessante trama de um caderno que pode matar apenas escrevendo o nome da pessoa é agregada aos personagens que formaram sua história.

Dentre os diversos personagens, temos Light, um estudante com vontade de fazer justiça e ser o "deus do novo mundo"; L, um detetive obcecado por doces que quer prender Kira por não concordar com sua ideologia; Misa, uma garota alienada fã do Kira que faz tudo o que ele deseja; Ryuk, um deus da morte que se diverte com os humanos e é proprietário do caderno que está com Light; Remu, outro deus da morte que cuida de Misa; entre diversos outros personagens, como a equipe de investigação, a policial, etc.

E o que isso tem a ver com o filme? Não muito. Trazendo uma releitura de toda a obra, a versão da Netflix decidiu seguir um caminho mais curto, até para não comprimir 12 volumes / 37 episódios em cerca de uma hora e meia. O problema foi a história rasa e os personagens contraditórios. Tudo bem que é uma adaptação (há quem diga que não), mas isso não é garantia de qualidade nem protege o resultado de críticas. As adaptações japonesas conseguiram, por mais que o público otaku daqui seja dividido quanto a isso.

Na nova versão, Light Turner (Nat Wolff) é um estudante rejeitado que faz o dever de casa dos outros em troca de dinheiro. Certo dia ele encontra um Death Note, pertencente ao shinigami Ryuk (Williem Dafoe), e logo conta seu segredo para Mia Sutton (Margaret Qualley). Apaixonados, os dois iniciam a busca por um mundo melhor sob o nome de Kira, mas logo começam a conflitar entre si e a serem perseguidos por L (Keith Stanfield), um detetive que quer a qualquer custo deter Kira. O pai de Light, James Turner (Shea Whigham) é chamado para se unir a L, que possui alguns informantes, como seu cuidador Watari (Paul Nakauchi).

Se no anime Light era aquele cara inteligente e cuidadoso, na nova versão vemos um rebelde e medroso, além de possuir uma relação conturbada com seu pai. L, que era o oposto de Light mesmo tendo muito em comum, aqui é um cara que age por emoções acima da razão. 'Misa', ao invés de submissa, é independente e também quem toma atitudes mais radicais em nome de Kira. E, se no original Light se aproveita de Misa, aqui os dois são um casal apaixonado e nada mais. E não existe Remu nem outro Death Note, apenas Ryuk e seu caderno.

A versão também traz mudanças quanto as regras do caderno. No original, caso o portador não quisesse o caderno, era apenas dizer e pronto. Nessa versão, ele tem que ficar sem usar por sete dias. De acordo com o diretor, nenhuma regra foi mudada, apenas acrescentada, o que talvez explique o furo de roteiro quando Light diz não querer mais e que Ryuk poderia levá-lo, mas não leva. Outro ponto que descarta a afirmação do diretor é a de que ninguém vê o shinigami mesmo encostando no caderno, enquanto no original é regra: quem encostar verá.

Falando em furos, os personagens parecem não possuir rumo, sendo até mesmo contraditórios. Espera-se de uma investigação o menor cuidado possível. Estamos falando de uma equipe caçando o maior assassino de todos. Mas o que vemos é Light e L brigando entre si na frente de todos e sem cuidado para esconder.

No original, embora L nunca tenha escondido que suspeitava de Light, ele sempre buscou formas de acusá-lo. Na nova versão isso não existe, L apenas enfrenta Light esperando que dê certo.

Outro problema vem com Light. No original ele tem cuidado para não mostrar o caderno para ninguém. Aqui ele sequer esconde o caderno. Quando Mia pergunta para ele o que é, ele conta quase que imediatamente. Isso além do fato dele se amedrontar mesmo matando um monte de pessoas. Seu instinto de bem e mal é muito normal para sua psicopatia.

Os temas tratados na obra original, como o que é justiça, quem está certo ou errado, o que se deve fazer com criminosos, etc, aparece no longa de forma superficial. Está lá apenas por estar, mas não existe um aprofundamento.

O que atrapalha todo o desenvolvimento do filme é a insistência dos roteiristas de manterem elementos do original em algo completamente diferente. Sim, é uma releitura, é baseado numa obra já existente, adaptado para os costumes nacionais, mas, tendo em mente que seguiriam algo diferente, porque colocar o máximo possível de ideias do original mesmo que soe forçado? O resultado é uma trama corrida onde nada leva a nada.

Mas nem tudo está perdido. A releitura americana consegue manter a ideia da obra (e apenas ela mesma), embora se perca em sua própria premissa. Em contrapartida, temos um visual atraente, sombrio, com direito a cenas escuras, jogadas de câmera e enquadramento e também um toque de gore nas cenas de morte. A trilha, apesar de duvidosa sem alguns momentos, funciona na maior parte do tempo.

Difícil dizer como Death Note foi de um jogo de gato e rato para um romance adolescente e uma perseguição entre dois caras irritados, mas o que foi feito está feito e não se pode voltar atrás. Ao fim, a obra não é tão ruim quanto alguns consideram, mas não chega a ser bom. Com um péssimo final aberto, a história se "encerra", mas deixa gancho caso tenha continuação. Wingard diz que está esperando o sinal verde da Netflix. E você, quer uma continuação ou já foi o suficiente? O que poderiam contar no próximo filme visto que quase tudo do original foi desperdiçado aqui? Apoia uma franquia americana própria livre da obra original assim como a japonesa fez?

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Tom & Jerry - Willy Wonka e A Fantástica Fábrica de Chocolate

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Tom & Jerry - Willy Wonka e A Fantástica Fábrica de Chocolate

Em 1971, lançava o que viria a ser conhecido no Brasil como "A Fantástica Fábrica de Chocolate". O filme, baseado no livro de mesmo nome, trazia uma história sobre Charlie Bucket (Peter Ostrum), um garoto humilde que morava com sua família e desejava compra uma barra de chocolate do famoso e misterioso Willy Wonka (Gene Wilder), que estava abrindo sua fábrica para aqueles que achassem cupons dourados em seus produtos. Sem dinheiro, ele via crianças birrentas ganhando e se entristecia, até que finalmente conseguiu. Entretanto, ao entrar na fábrica com seu avô, ele descobriu que Wonka não era nada do que imaginava.

O longa foi um musical marcante, sendo bastante elogiado. Exceto pelo escritor do livro, que odiou e proibiu que seus livros fossem novamente adaptados (talvez por isso nunca tenha tido continuação). Mas quem se importava? A crítica e o público amaram o que viram. Hoje é considerado um dos melhores filmes já feito. Gene Wilder imortalizou a imagem de Willy Wonka e seu mundo fantástico de "pura imaginação". O curioso é que o filme também ficou conhecido por ser um tanto quanto perturbador, principalmente na cena em que os personagens atravessem um rio de chocolate dentro de um túnel.

Apesar da proibição de adaptação, a Warner conseguiu em 2005 permissão para um remake, dirigido por Tim Burton e com Johnny Depp no papel de Willy Wonka. Com um visual mais atual, é o que mais passa na televisão atualmente. Felizmente não é dele que falarei aqui. Não que seja ruim, longe disso.

Em comemoração aos 45 anos do lançamento do longa original e em homenagem a Gene Wilder, falecido ano passado, uma versão animada do longa começou a ser produzida. Não uma versão qualquer, mas sim um encontro de Tom & Jerry com o filme. Os dois personagens clássicos dos desenhos da Hanna-Barbera (atualmente pertencente a Warner) já estrelaram diversos longas e alguns encontros, como com O Mágico de Oz e Sherlock Holmes. Dessa vez, estavam estrelando um longa com A Fantástica Fábrica de Chocolate.

A ideia de unir Tom & Jerry com A Fantástica Fábrica de Chocolate nem de perto parece boa (quem pensou nisso?) e sequer parece fazer sentido, mas no resultado é perceptível um cuidado com o filme original. Conseguem cumprir o objetivo. Não que isso signifique que o resultado seja bom. Grande parte do longa soa como uma versão resumida animada do original, com direito a enquadramentos, diálogos, músicas, etc, idênticos ou semelhantes. A grande diferença fica pela inserção de Tom & Jerry na trama, cuja influência se torna duvidosa, resultando em novos acontecimentos que servem apenas pro propósito da animação, que é criar um encontro entre as duas franquias. Os dois personagens possuem seus bons momentos, mas não é sempre.

O primeiro encontro entre os personagens ocorre durante as comuns brigas entre Tom e Jerry. Charlie está entregando jornais até que vê um gato prestes a comer um rato e acaba batendo no gato. Tom sempre se machucando. Charlie dá um pão pra eles e o outro leva para casa. Durante o filme eles sempre se encontram em algum momento, tanto dentro quanto fora da fábrica. Isso gera mudanças opcionais na trama, apenas detalhes de acréscimo. Sem mudar os acontecimentos do original, o longa insere momentos que apenas esticam o ocorrido, mas o resultado final é o mesmo.

A animação tira proveito de alguns elementos do filme original para desenvolver o encontro das franquias. Há fillers que nada acrescentam na trama, como a de Tom e Jerry roubando uma caixa de chocolates e devolvendo depois e a deles indo atrás do avô de Charlie porque ele esqueceu o bilhete dourado em casa. Apesar dessas cenas, há outros fillers que trazem novidades: No filme original é citado que Wonka tem um rival. Na animação isso cria uma trama adicional onde Tom, Jerry e um rato Oompa-Loompa são perseguidos dentro da fábrica por esse rival e por um cão policial que está traindo Wonka. Na cena do túnel, ironizam a questão dele ser considerado assustador no original. Numa das cenas de perseguição entre os personagens, máquinas da sala de invenções são usadas em meio a briga. E por aí vai. Existe um aproveitamento de ideias, tanto boas quanto ruins.

Ao fim, a animação serve mais pra apresentar o longa original para as crianças e é uma forma para os saudosistas relembrarem a trama, embora eu prefira muito mais rever o original. Descartável, mas não ruim, por mais que tenha sido execrado pela crítica, como se fosse uma ofensa ao original. Não é, o original continua lá para ser visto e revisto. Pelo menos tentaram resgatar a obra com algum diferencial.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Sharknado 5 - Voracidade Global

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Sharknado 5 - Voracidade Global

Em 2013, a Syfy, famosa por filmes toscos e de qualidade duvidosos, lançou Sharknado, um filme com a premissa de tornados com tubarões. Foi tão ruim e inusitado que caiu no gosto do povo (por algum motivo está com 82% de aprovação no Rotten Tomatoes). No ano seguinte, uma continuação veio com a mesma premissa. E assim a franquia continua até hoje. Adotando a zoeira a partir do terceiro filme, a franquia passou de filmes mal feitos propositalmente para filmes mal feitos propositalmente com diversão. Se antes seguia um estilo "sério", apesar dos pesares, agora abraçava o cômico para ir além e expandir seu universo. Sim, Sharknado evoluiu ao seu próprio universo.



O terceiro longa trouxe novidades para a franquia e deu indícios do rumo que ela tomaria, principalmente ao final, com tubarões indo para o espaço e referências a Star Wars. A cena inclusive foi revelada por David Hasselhoff, que atuou no filme, antes mesmo do lançamento do mesmo. Se isso não é prova do nível que estavam tomando, então não sei o que pode ser considerado como tal. O quarto filme, que considero o melhor até o momento, só confirmou. Nele, diversas tecnologias são criadas para estudar e combater sharknados. O problema é que os sharknados começam a mudar, ganhando outros elementos, como areianado, fogonado, águanado e tudo o que tem direito. Agora, em seu quinto longa, a franquia infelizmente deixa quase tudo de lado para criar uma infestação global de sharknados.



A trama se inicia com Nova (Cassandra Scerbo) descobrindo uma caverna. Ela chama Fin (Ian Ziering), protagonista da franquia, que estava junto com sua esposa ciborgue April (Tara Reid), também protagonista, e seu filho Gil (Billy Barratt) visitando a realeza britânica. Quando ele chega no local, os dois veem desenhos que supostamente relatavam que os sharknados sempre existiram. Eles então pegam uma pedra misteriosa e o caos mundial começa. Diversos sharknados começam a surgir ao redor do mundo e a destruir tudo. Depois de um tempo de destruição e referências, o filho do casal é sugado por um sharknado e fica preso por lá. Como? Ele está usando um capacete de proteção contra sharknado. Sério. Depois de salvar o Palácio de Buckingham, o casal parte em busca de ajuda.



A premissa do longa é se passar em vários países. Isso é resolvido de forma "simples": O sharknado que Gil está preso possui um vórtice que transporta os protagonistas de um país a outro. Basta pular dentro dele e pronto. Como só os protagonistas são sugados para lá e vão parar em outro país, enquanto o resto é apenas morto ou destruído e seu filho continua preso... talvez a pedra que pegaram na caverna tenha culpa nisso. Ela atrai o sharknado, justamente o que o garoto tá preso, e cria um vórtice no meio. Muita coincidência.



Dentre os diversos países, temos a Austrália, onde a Ópera de Sydney é transformada numa base secreta armada. É muita viagem e criatividade. Temos até mesmo uma passagem memorável no Brasil. São minutos de puro filler que trazem um pequeno e dispensável arco pra trama, onde a pedra do Sharknado é roubada e uma perseguição é iniciada. O que vemos são mais bizarrices num lugar que não lembra nada o Rio de Janeiro e ainda mistura placas em português e inglês. Nem mesmo o Cristo Redentor escapa.



Na parte do Brasil temos a participação especial de um youtuber brasileiro do Parafernalha. Aliás, há diversos famosos e pseudos, como a franquia costuma fazer. São tantos que fica difícil identificar todos. Tem atores, cantores, esportistas, celebridades, etc. Para os olhos mais atentos e conhecedores, se torna uma divertida busca de easter-eggs. Para os cinéfilos de plantão, o filme também é repleto disso em relação a filmes. O início do longa, por exemplo, é parte inspirado em Indiana Jones (com direito a fonte idêntica no título) e Missão Impossível. Na primeira devastação, no Reino Unido, tem um integrante da banda Poison que participa de uma pequena cena fazendo uma tosca referência ao último Mad Max.



Analisar Sharknado é uma tarefa difícil. O filme não é feito para ser levado a sério e, sabendo disso, se utilizam da mais completa zoeira para criar momentos absurdos e propositalmente toscos. Furos de roteiro, forçações de acontecimentos, quebra de continuidade, falta de noção de tempo e espaço, ações exageradas e outras viagens (problemáticas ou não) são propositais. Criticar algo do gênero pode ser complicado, mas, tendo noção do que está sendo criticado, é válido. O longa possui o padrão da franquia, mas deixa de lado diversos elementos, justamente os melhores (em especial os apresentados no quarto filme) em prol de uma franquia onde cada filme se foque apenas em uma diferenciação. Mas, como acabei de dizer, ainda mantém o padrão. Como diz a popular frase: "É tão ruim que é bom". Ou "Filme ruim é bom demais". Isso é Sharknado. E, como os últimos longas, acabam por deixar um gancho para o próximo. Que venha o sexto filme! Promete ser grandioso, na medida do possível, com viagens no tempo.

[GEEKABLE] [CRÍTICA] Resident Evil: Vingança

[Repostagem temporária de algumas críticas que publiquei no Geekable].
[Matéria de 2017]

Resident Evil: Vingança

A franquia Resident Evil sempre teve dois públicos principais: Os dos jogos e os dos filmes. Muitos gamers odeiam os longas cinematográficos pelo fato de se distanciarem dos jogos, embora os filmes tenham diversos elementos dos jogos inseridos neles. Apresentando uma protagonista inédita (Alice), os live-action de qualidades variáveis eram focados na ação, com exceção, talvez, do primeiro, que é o mais bem aceito e considerado mais "suspense" quando comparado com os posteriores.

Sendo mais conhecido pelos fãs dos jogos, a atual leva de animações está sendo melhor recebida. Iniciada em 2008 com Degeneração, lançado um ano após a primeira trilogia com atores ter sido temporariamente encerrada, o primeiro longa animado da franquia respeitava a base dos jogos, inclusive se passando no mesmo universo deles, mais especificamente entre os jogos RE 4 e 5, e trazia Leon como protagonista. A continuação, Condenação, veio apenas anos depois, em 2012, se passando entre RE 5 e 6. E agora, em 2017, chega Vingança, sendo o primeiro a ser lançado no cinema e em 3D.

A trama se situa entre os jogos RE 6 e 7 e pela primeira vez nas animações se passa numa cidade real: Nova Iorque. Diferente dos longas anteriores, o protagonista da vez é o agente Chris Redfield, que está atrás do comerciante de armas biológicas Arias. O antagonista busca vingança pelo governo americano ter literalmente jogado uma bomba em cima do local onde ele estava durante seu próprio casamento, matando todos os presentes (menos ele, claro).

Tão importante quanto Chris, quem recebe grande destaque é a cientista Rebecca Chambers (para os gamers de plantão, ela é do primeiro jogo da franquia, assim como o Chris). Trabalhando no ramo de biotecnologia, Rebecca cria uma cura para o vírus que está se espalhando e trazendo os mortos de volta a vida. Ela logo é atacada, revelando que Arias sabe mais do que pensavam. E, para fechar o trio, temos Leon S. Kennedy, que aparece menos que os anteriores, mas está lá. Ele está de férias sofrendo pela perda de sua equipe quando o envolvem na história.

Visualmente a animação está ótima, superando (e muito) seus antecessores. Quanto ao roteiro, há observações. Assim como as animações japonesas baseadas em jogos costumam ser, Vingança não explica tudo o que deveria. O universo já existe e apenas quem já está familiarizado com ele irá entender tudo. Para quem jogou os jogos, ótimo. Para quem não jogou, mas conhece o universo, ainda dá, basta aceitar o que vier. Para quem nunca jogou e caiu de paraquedas no filme, apenas aceite o que vier também.

As cenas de ação são o grande trunfo da animação, com direito a tiros e mais tiros. E tudo sem perder o lado do horror, com destaque para a cena noturna inicial dos agentes invadindo a mansão. Existe um equilíbrio e é possível notar uma mudança de ritmo com o passar do tempo. Assim como nos jogos, o filme começa se focando mais no horror para depois se focar mais na ação.

Voltando para a ação, algumas poucas cenas exageradas acabam deixando a desejar. Apesar de todo o lado fictício que existe em Resident Evil, incluindo seus lados mais viajados, sua pegada costuma ser realista. E justo quando o longa decide se passar num lugar que existe de verdade, cenas como a do Leon na ponte e de um tiroteio no terceiro ato envolvendo o Chris podem soar bastante exageradas. Não que estrague a experiência, não diminui a empolgação que o longa entrega, mas detalhes são detalhes e as mudanças perceptíveis. Felizmente, como você, caro leitor, deve ter percebido (espero), são poucas as cenas assim. Em sua maioria, está bem feito e convincente.

Muito se dizia sobre a animação ser um reboot, acreditava-se até que seria uma espécie de remake do primeiro jogo num universo paralelo, mas a Capcom anunciou que é apenas uma sequência mesmo. Tudo bem então. Aceitemos. Entre altos e baixos, o terceiro e talvez melhor capítulo animado dos zumbis é um avanço para a franquia, oferecendo espaço para novos personagens. Resta esperar o rumo que a Capcom irá tomar. Levando em conta que se baseiam nos jogos, um quarto longa só quando sair Resident Evil 8. Bem que poderiam criar animações para os anteriores (tem o curta de 2000 pós RE3, mas não conta) ou até mesmo sem ligações com os jogos (como um universo paralelo mesmo). Potencial não falta.

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Ninguém importante. Formado em jornalismo. Ex-colunista de cinema, quadrinhos e k-pop por aí.