Unificação: O Blog do Lucas Cardozo e o Críticas do Lucas Cardozo agora são um só. O blog se tornou um espaço pessoal para rascunhos e afins, além de algumas publicações de alguns sites que já fiz parte.

04 fevereiro 2014

"Três Maneiras de Escrever Para Crianças"

Para quem quer escrever um dia para crianças, ou já escreve, ou até mesmo quem não quer escrever, recomendo lerem "Três Maneiras de Escrever Para Crianças", do escritor C. S. Lewis. Durante 10~12 páginas, Lewis aborda não só como escrever para crianças mas também o que é escrever para crianças e vai além, indagando sobre os adultos e seus gostos comparados aos de uma criança, afinal, os adultos que escrevem para as crianças.

Infelizmente no Brasil a obra não foi lançada separadamente e só está disponível no livro "As Crônicas de Nárnia - Volume Único", lançado aqui pela Martins Fontes, que talvez eu fale mais no futuro aqui. Procurei na internet e não achei a obra traduzida para ler. Pelo menos achei a obra original em inglês, que pode ser lida aqui: http://mail.scu.edu.tw/~jmklassen/scu99b/chlitgrad/3ways.pdf .

Felizmente, o blog Meu Cantinho de Leitura decidiu publicar trechos da obra traduzida, formando meio que um resumo. Eles podem ser lidos aqui (parte 1): http://meucantinhodeficcao.blogspot.com.br/2013/05/tres-maneiras-de-escrever-para-criancas.html e aqui (parte 2): http://meucantinhodeficcao.blogspot.com.br/2013/05/tres-maneiras-de-escrever-para-criancas_21.html .

Para quem não tem muito tempo para ler ou tem preguiça, aqui vai um resumo que eu fiz (ou uma tentativa, já que é bem difícil resumir o já resumido resumo) dos trechos:

"Um desses testemunhos me foi dado por uma senhora que me enviou o original de um conto que ela havia escrito, no qual uma fada punha à disposição de uma criança um mecanismo maravilhoso. (...) Fui obrigado a dizer a autora, com toda sinceridade, que eu não gostava nem um pouco daquele tipo de coisa. Ela respondeu "Eu também não gosto, acho muito aborrecido. Mas é isso que a criança moderna quer." O outro fato foi o seguinte: no primeiro livro que escrevi, fiz uma longa descrição de um chá completo - que me pareceu delicioso - oferecido por um fauno hospitaleiro à minha heroína, uma garotinha. Um homem, pai de vários filhos, me disse "Ah, já sei como teve essa ideia. Se você quisesse agradar a leitores adultos, escreveria uma cena de sexo. Então, decerto pensou 'Para crianças, não dá. Em vez de sexo, o que mais posso oferecer-lhes? Já sei! os pirralhos adoram se encher de guloseimas." Na realidade, porém, eu é que gosto muito de comer e beber. E escrevi o que gostaria de ter lido quando criança e que ainda gosto de ler agora, com mais de cinquenta anos."
"As crianças, evidentemente, constituem um público especial; basta descobrir o que elas querem e lhes oferecer exatamente isso, por menos que nos agrade."
"É a maneira de Lewis Carroll, Kenneth Grahame e Tolkien. O livro publicado nasce de uma história contada de viva voz e talvez espontaneamente a uma determinada criança. A segunda maneira é semelhante à primeira porque o autor, sem dúvida, procura dar à criança o que ela quer. Só que nesse caso ele está lidando com uma pessoa concreta, uma criança específica que, evidentemente, é diferente de todas as outras. Não concebe "as crianças", de modo nenhum, como uma espécie estranha cujos hábitos ele precisa "identificar", como faria um antropólogo ou um caixeiro viajante."
"A terceira maneira, a única que sou capaz de usar, consiste em escrever uma história para crianças porque é a melhor forma artística de expressar algo que você quer dizer."
"Quando escrevemos longamente sobre crianças vistas pelos olhos de adultos, o sentimentalismo tende a se introduzir, ao passo que a realidade da infância, tal como a vivemos, tende a se exluir. Ora, todos nós nos lembramos de que a nossa infância, tal como a vivemos, era infinitamente diferente de como os adultos a viam. Foi por isso que, quando perguntaram a Sir. Michael Sadler qual era sua opnião sobre uma nova escola experimental, ele respondeu: "Não vou dar nenhuma opinião sobre nenhum desses experimentos enquanto as crianças não crescerem para nos dizer o que realmente aconteceu"."
"Inclino-me quase a afirmar como regra que uma história para crianças de que só as crianças gostam é uma história ruim. As boas pemanecem."
"Hoje em dia, a crítica moderna usa o adjetivo 'adulto' como marca de aprovação. Ela é hostil ao que denomina 'nostalgia' e tem absoluto desprezo pelo que chama 'Peter Panteísmo'. Por isso, em nossa época, se um homem de cinquenta e três anos admite ainda adorar anões, gigantes, bruxas e animais falantes, é menos provável que ele seja louvado por sua perpétua juventude do que seja ridicularizado e lamentado por seu retardamento mental. Se dedico algum tempo a defender-me dessas acusações, não é tanto porque me importe muito em ser ou não ridicularizado e lamentado, mas porque a defesa tem uma relação íntima com toda a minha concepção do conto de fadas e até mesmo da literatura em geral."
"É natural que as coisas novas queiram crescer. Porém, quando se mantém na meia-idade ou mesmo na juventude, essa preocupação em "ser adulto" é um sinal inequívico de retardamento mental. Quando tinha dez anos, eu lia contos de fadas escondido e ficava envergonhado quando me pilhavam. Hoje em dia, com cinquenta anos, leio - os abertamente."
"A visão moderna, a meu ver, envolve uma falsa concepção do crescimento. Somos acusados de retardamento porque não perdemos um gosto que tínhamos na infância. Mas, na verdade, o retardamento consiste não em recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas. Hoje gosto de vinho branco alemão, coisa de que tenho certeza de que nao gostaria quando criança; mas não deixei de gostar de limonada. Chamo esse processo de crescimento ou desenvolvimento, porque ele me enriqueceu: se antes tinha um único prazer, agora tenho dois. Porém se eu tivesse de perder o gosto por limonada para adquirir o gosto pelo vinho, isso não seria crescimento, mas simples mudança. Hoje em dia, já não gosto somente de contos de fadas, mas também de Tolstói, Jane Austen e Trollope, e chamo isso de crescimento; se tivesse precisado deixar de lado os contos de fadas para apreciar os romancistas, não diria que cresci, mas que mudei."
"Em quase todas as épocas e lugares, os contos de fadas não eram feitos especialmente para as crianças nem desfrutados exclusivamente por elas. Só se deslocou para a escola maternal quando caiu de moda nos circulos literários (...). E todos aqueles que a apreciam, sejam jovens ou velhos, provavelmente a apreciam pela mesma razão."
"O conto de fadas é acusado de dar uma falsa impressão do mundo em que vivem. Na minha opinião, porém, nenhum outro tipo de literatura que as crianças poderiam ler lhes daria uma impressão tão verdadeira. As histórias infantis que se pretendem 'realistas' tendem muito mais a enganar as crianças. Quanto a mim, nunca achei que o mundo real pudesse ser igual aos contos de fadas. Acho que eu esperava que a escola fosse igual às histórias de escola. As fantasias não me enganavam, as histórias de escola, sim..."
"Os que afirmam que as crianças não devem sentir medo podem estar querendo dizer duas coisas. Podem querer dizer (1) que não devemos fazer nada que possa despertar na criança medos fantasmagóricos, debilitantes e patológicos contra os quais a coragem comum nada vale: As chamadas fobias. Se possível, a mente da criança deve manter-se isenta de coisas em que não suporta pensar. Ou podem querer dizer (2) que devemos tentar manter a criança alheia ao fato de que nasceu num mundo nde há morte, violência, ferimentos físicos, aventura, heroísmo e covardia , onde á o bem e o mal. Se querem dizer a primeira coisa, concordo com eles; Se querem dizer a segunda, não concordo. Essa última é a atitude que dá às crianças uma falsa impressão e alimenta-as de escapismo, no mau sentido da palavra. (...) Seria ótimo se nenhum menino, deitado em sua cama, ao ouvir ou imaginar que ouviu um ruído, jamais sentisse medo. Mas, se o medo é inevitável, é melhor que a criança pense em gigantes e dragões do que em meros ladrões."
"Rejeitei toda e qualquer abordagem que parta da pergunta: "Do que as crianças modernas gostam?" oderiam me perguntar: "Você também rejeita a abordagem que parte da pergunta: 'Do que as crianças modernas precisam?' - Em outras palavras a abordagem moral ou didática?" Acho que a resposta é "Sim". Não porque eu não goste de que as histórias tenham uma moral, e menos ainda por pensar que as crianças não gostam da moral da história. É antes porque tenho certeza de que a pergunta "Do que as crianças modernas precisam?" não nos levará a uma boa moral. (...) Seria melhor perguntar: "Qual é a moral que eu preciso?" (...) Por outro lado se ela (a estória) não lhe mostrar moral nenhuma não queira inventá-la. (...)"
"Devemos encarar as crianças comos nossos iguais naquela região da nossa natureza em que efetivamente somos iguais."

Acho que essas são as partes mais importantes do resumo da obra. Quem quiser conferir o restante do resumo basta entrar no link postado. Quem quiser ler a obra original, se souber inglês, tem o outro link já postado, ou, se puder, compre o livro, vai valer a pena, afinal, Lewis foi um grande escritor e Nárnia é uma das maiores sagas de fantasia de todos os tempos.

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Formado em jornalismo e futuro escritor de livros. Colunista de cultura pop. Cinema, quadrinhos, k-pop. O blog surgiu em 2008 com a proposta de reunir o que eu achava de interessante pela internet e evoluiu até se tornar algo mais original. Atualmente serve como um local de divulgação de links de matérias que escrevo para outros sites, rascunhos e alguns textos aleatórios.