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01 dezembro 2014

[KOKYO] Battle Royale (livro)



 Battle Royale (livro)

Aviso: A crítica trata sobre um livro que, apesar de clássico, é considerado violento e polêmico (embora possamos desconsiderar [pelo menos em parte] essa 'polêmica' nos dias de hoje). Embora o livro evite pegar mais pesado em assuntos além de mortes de formas cruéis, a leitura do livro não é aconselhável a todos. A da crítica sim, para quem está curioso, não detalhei nada, então fiquem tranquilos que não tem nada de cabeça explodindo e miolos voando. Não aqui na crítica.

"Que isso? Jogos Vorazes japonês?", perguntam as pessoas que não fazem ideia do que é essa belezura. Não, Battle Royale foi escrito mais de uma década antes e deixou sua marca até antes de ser publicado. Nada de comparações, por favor (embora 99% das pessoas que leram as duas obras prefiram Battle Royale). Mas vamos prosseguir com a crítica.

Lançado em 1999 no Japão, Battle Royale é um livro de enorme sucesso (e polêmica) escrito por Koushin Takami. Com o sucesso, surgiram mangás e filmes. Os mais famosos foram lançados em 2000, que são adaptações do livro. São eles: Uma série em mangá, que totalizou 15 edições, encerrando em 2006 (mesmo ano que iniciaram as publicações no Brasil), e um live-action, que chegou a ser bastante elogiado por Quentin Tarantino em 2009 como 'o melhor filme que ele já tinha visto'.

Depois de lançados o mangá, em 2006, e o livro, em 2007, no Brasil, restava chegar o livro. E eis que em 2014 a Globo Livros realizou o sonho de muitos fãs e também de pessoas curiosas em relação a comparação com Jogos Vorazes, devido a pontos semelhantes, embora as obras sejam diferentes entre si (a Suzanne Collins jura que não se inspirou no livro, sequer leu). Que seja. Battle Royale é um tijolo, são 664 páginas de muita tensão, reflexão e violência. É uma mistura de gêneros incrível, temos ação, drama, romance, suspense, horror, entre outros, tudo em uma única história de tirar o fôlego.

Vale citar que em 1997, Koushin Takami já havia escrito Battle Royale e participou do Japan Grand Prix Horro Novel, mas foi desclassificado na final devido ao conteúdo polêmico da história. Mas afinal, o que tem de tão polêmico assim? Simples: Há adolescente se matando e o Japão é um país socialista totalitário. Se isso não bastasse, a violência é forte, embora Takami afirma que "pegou leve" se comparado a realidade.

O livro conta a história da turma B do nono ano da Escola Fundamental Shiroiwa da Província de Kagawa, que, com seus 42 estudantes, acaba sendo escolhida pela Grande República do Leste Asiático para o "Programa", o "Ato BR", onde um deve matar o outro até sobrar um único sobrevivente. Na história, a turma é posta numa ilha e cada um recebe um kit de sobrevivência, onde as armas podem variar absurdamente. Imagine comparar um papel com uma bazuca? É por aí. Mas prosseguindo. Pra piorar, os alunos possuem uma coleira presa ao pescoço, com um rastreador. Se tentar retirá-la, ela explode, matando o portador. E você acha que isso é tudo? Há ainda os quadrantes proibidos. Caso alguém esteja nele a partir da hora enunciada, o colar também explode. Mas espere, isso não é tudo. Os alunos tem 48 horas para se matarem até sobrar um, caso contrário, todos morrem. E se você acha que isso tudo já é demais, coitado, há mais, mas vou deixar para quem ler o livro descobrir.

O governo japonês do livro faz isso basicamente para "mostrar quem manda" e evitar que rebeldes surjam, mostrando uma matança entre adolescentes de 15 a 17 anos em geral, causando assim um enorme medo na população. E o Programa é o 'programa perfeito', tudo muito bem organizado para que não haja falhas. Ou seja, caso você esteja no nono ano, sua turma for escolhida e você parar no campo de batalha, é impossível escapar. Se quiser sobreviver, vai ter que matar seus amigos e colegas de classe.

Apesar da história mostrar o ponto de vista (em terceira pessoa) da maioria dos 42 estudantes, e apresentá-los um por um, uns mais outros menos, temos nossos personagens principais, que são três estudantes: Shuya, Shogo e Noriko. Shuya e Noriko são amigos, já Shogo é um misterioso aluno transferido. Eles acabam se unindo durante o jogo para sobreviverem juntos. Mas o livro não se prende apenas a eles. Como eu disse, os outros alunos tem seus momentos, o que nos ajuda a entender as motivações de cada um.

Devo avisar que o livro possui flashbacks sobre o passado dos personagens antes do 'jogo', que ajudam a entendê-los e são bons de ler em sua maioria. Entenda como algo positivo e bem utilizado. Em alguns casos, importante para a história.

A história já começa com os alunos indo para a ilha, porém, para eles, eles estão apenas num passeio escolar, até que o ônibus é 'atacado' e eles acordam numa sala onde um representante do governo nos jogos explica a situação e as regras. Esse primeiro momento pode ser cansativo para alguns, já que o livro começa a explicar os personagens, contar suas histórias, etc. Confesso que me entediei um pouco em alguns momentos, mas é passageiro (com perdão do trocadilho aos estudantes no ônibus). Depois que eles são capturados, as coisas melhoram. Quando o jogo começa, melhora mais ainda.

A cena da explicação do jogo já mostra o potencial da loucura que o ser humano pode ir e o nível da violência que tem a oferecer. É coisa de doido, só lendo mesmo. Passada as explicações e as confusões, o jogo tem início. 'É aí que o bicho pega', com os estudantes correndo para a floresta desesperados e sem acreditar no que está acontecendo. Muitos vão logo conferir suas armas, desde armas de fogo a simples objetos.

Além da introdução, do prólogo e do epílogo, a história é dividida em 4 partes. A primeira apresenta os nomes dos personagens, explica as regras do jogo e mostra as primeiras mortes, no meio ao caos. A segunda mostra as mortes que ocorrem logo depois, quando os alunos já estão começando a se adaptar a situação. A terceira mostra as últimas mortes, quando poucos restaram. A quarta encerra a história, e prefiro não comentar muito sobre o final, vou deixar para quem ler tirar suas conclusões. Sim, o final agrada e surpreende.

Além das surpreendentes e violentas cenas de luta, que são muitas, o livro também possui bastante diálogo. Bastante mesmo. Porém não pense como algo ruim. Assim como os flashbacks funcionam em sua maioria, os diálogos são ótimos tanto para 'passar o tempo' quanto para entender o ponto de vista dos personagens. Há momentos em que eles estão conversando sobre o jogo, sobre política, sobre o futuro, sobre música, sobre amizade, sobre o passado, sobre amor, sobre tudo que pessoas normais conversariam. Os personagens podem até soar maduros para suas idades, mas isso não se torna estranho no contexto. E tenho que admitir: Takami soube fazer diálogos bastante envolventes. Dá pra perceber claramente o que o personagem está sentindo no momento e sua visão sobre o temas. Bons diálogos, boas cenas de luta, boa história. O que mais poderia pedir?

O foco aqui é a sobrevivência. Até onde o ser humano pode ir para sobreviver numa situação como essa? Pra que formar amizades se no fim só pode restar um? Como confiar em alguém se todo mundo é suspeito, incluindo seu amigo? O que acontece com a cabeça de alguém que não resiste psicologicamente a situação? São perguntas que o livro tenta responder. A violência é totalmente aceita e se encaixa perfeitamente na história, não é algo apenas para divertir o leitor de qualquer forma, tem uma essência mais profunda, tem um sentido, uma lógica por trás dos atos, concordando ou não com ela.

Battle Royale é uma história inesquecível, com acontecimentos inesperados onde qualquer um pode morrer a qualquer momento, até mesmo aquele personagem que a história está acompanhando passo a passo. O virar da folha se torna emocionante e cada morte impactante. Abordando temas sobre cotidiano, humanidade e política, Battle Royale se tornou um clássico que deve ser lido com cuidado. Sua violência é justificável e tenta responder as dúvidas que muitos já se perguntaram sobre sobrevivência. Fica a dica de um dos melhores livros já escrito e que merece mais reconhecimento.

Resta citar que a edição brasileira do livro é toda trabalhada. Há detalhes em alto relevo por todo o lado de fora do livro e nas 'orelhas'. Há também, atrás da capa e contra-capa, o mapa da ilha com a listagem de quadrantes proibidos e suas respectivas horas. Antes da história, temos uma lsta de chamada dos estudantes, uma citação de um livro do George Orwell, algumas frases diversas e a melhor dedicação que um livro poderia ter: "Dedico este livro a todas as pessoas que amo. Embora duvide que elas me agradeçam por isso". Simplesmente incrível. E se você que não leu o livro não estiver convencido de que é bom, no lugar da sinopse da edição brasileira tem Stephen King aprovando o livro. Se você não sabe quem é, favor procurar o Google mais próximo e se atualizar já. No fim, Battle Royale é o que há, e ninguém vai substituir sua marca deixada no mundo.

~Crítica originalmente publicada no portal Kokyo em 10 de novembro de 2014~

2 comentários:

Natani disse...

Eu não acho que a Suzanne Collins leu o livro. Penso que ela viu o filme e se inspirou. hauahaua Isso é fato! E o que comprova isso é a história da arena que funciona como um relógio, presente em ambos. Essa foi a cópia mais descarada. lol
Comprei o livro, mas estou sem tempo pra lê-lo. Espero poder lê-lo em breve! Vi apenas os filmes.
Adorei a crítica! Agora fiquei com mais vontade ainda de ler...!

Lucas disse...

Obrigado.

Realmente, mesmo sendo obras bem diferentes, há semelhanças inegáveis.

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Formado em jornalismo e futuro escritor de livros. Colunista de cultura pop. Cinema, quadrinhos, k-pop. O blog surgiu em 2008 com a proposta de reunir o que eu achava de interessante pela internet e evoluiu até se tornar algo mais original. Atualmente serve como um local de divulgação de links de matérias que escrevo para outros sites, rascunhos e alguns textos aleatórios.